sexta-feira, 15 de julho de 2011

Começar e acabar a meio

A certa altura uma das personagens diz: "Nós não estamos perdidos. Só andamos à procura do nosso caminho."
Neste filme não sabemos exactamente como começou a viagem. Nem saberemos, no final, como acabará. Mas percebemos que isso não nos faz falta. As coordenadas espaço e tempo passam para segundo plano ao acompanharmos a evolução daquele grupo, no sentido de uma alteração das relações de poder, que está inicialmente do lado clássico, do mais forte; para estar, no final, do lado daquele que, noutras condições, seria certamente ignorado.
Talvez por a realização ser de uma mulher, a perspectiva feminina é predominante. A câmara está normalmente junto a elas e ouvimos muitas vezes os diálogos dos homens a uma certa distância. E é o comportamento de uma mulher que, apesar do medo face ao desconhecido, irá fazer mudar alguma coisa. 
O filme é também uma homenagem aos espaços agrestes e à natureza, que ali decide tanto quanto os humanos. 
Falta acrescentar que a música, tal como o silêncio, acentuam a tensão presente em certas cenas de uma forma muito bem conseguida.
Ah! E eu gosto tanto da Michelle Williams!

6 comentários:

  1. "Por que é bela a arte? Porque é inútil. Por que é feia a vida? Porque é toda fins e propósitos e intenções. Todos os seus caminhos são para ir de um ponto para outro.
    (...)
    Quem desse a vida a construir uma estrada começada no meio de um campo e indo ter ao meio de um outro, que, prolongada, seria útil, mas que ficou, sublimemente, só o meio de uma estrada.
    A beleza das ruínas? O não servirem para nada.
    A doçura do passado? O recordá-lo, porque recordá-lo é torná-lo presente, e ele nem o é, nem o pode ser (...)"
    (Bernardo Soares, O Livro do Desassossego)

    Sendo sobre fins e propósitos, o filme é belo porque porque se liberta do "princípio" e do "fim", ou porque os evidencia como vícios mitos da nossa maneira de ver o mundo e avaliar as coisas.

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  2. E o King ali tão perto...
    Vantagens da vida na província - podemos gastar em vinho o dinheiro que seria para o cinema.

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  3. E não é que essa visão do Bernardo Soares se adequa, que nem uma luva, ao filme, António? É que, de facto, não o podemos ver à luz do que seria normal esperar de uma narrativa clássica. Temos mesmo que nos libertar desses vícios de que falas.

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  4. Bem... não sei se será uma vantagem. Mas percebo o ponto de vista. :)

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