sábado, 13 de junho de 2009

Variações de António (2)


(imagem em http://www.pmf.sc.gov.br/)

Deste outro António, Fernando António, poeta de nomes vários, sabemos que nunca se revelou para além da sua imagem de modesto empregado de escritório.
Provavelmente porque a sua vida interior, onde se cruzavam tantas personagens, era tão intensa que não deixava tempo e espaço para a que vivia.

Do Cancioneiro:

Tenho tanto sentimento

Tenho tanto sentimento
Que é frequente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

2 comentários:

  1. Gosto muito de Pessoa, sendo que acho que esta estrofe se adequa bem ao contexto silencioso dos blogues. O que achas?

    HORA ABSURDA

    O teu siêncio é uma nau com tôdas as velas pandas
    Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso
    E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas
    Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraiso.

    Fernando Pessoa

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  2. Acho que não vou responder mas deixar o silêncio manifestar-se :)

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