Há já algum tempo que não os via. Hoje encontrei-os por duas vezes. De manhã, ele e a sua "companheira", como gosta de lhe chamar, estavam sentados na estação, não nos bancos (nunca os vi sentados nos bancos), mas na zona mais baixa do muro que ladeia o acesso às plataformas. Estavam a fumar, com uma enorme calma, vestidos como se estivessem já à espera do Outono.
"Estamos inscritos no serviço nacional de emprego como dois sem abrigo", como se tal condição fosse uma profissão, informava ele, ao final da tarde, no comboio, mas, "para podermos sobreviver, sem roubar, vemos-nos obrigados a vender canetas do Pato Donald e carteirinhas para o passe..." Ele não pára de falar. Ela apenas percorre a carruagem à sua frente, mostrando os artigos, sussurrando qualquer coisa que não se chega a perceber o que é, indiferente aos olhares que se detêm na sua barba que, de tão grande, suscita comentários e algumas risadas.
Na carruagem em que eu estava não venderam nada. Mas ainda há mais carruagens à frente...
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