É uma autora que associo à minha maioridade. Não a que se liga à idade mas a que é reflexo de um crescimento interior. Este crescimento, feito por saltos, entre avanços e recuos, teve, no meu caso, uma fase de avanço na época em que a li. Dois dos seus livros, "Olhem para mim" e "Hotel du Lac" (comprados no mesmo dia na Feira do Livro) foram lidos entre 1989 e 1990. Há livros que não se recordam tanto pelo que são mas mais pela época em que os lemos e pelas circunstâncias vividas. Acontece isso mesmo com estes.
Soube agora que Anita Brookner faleceu a semana passada. Em jeito de lembrança deixo uma passagem...
"... Foi então que vi o ofício de escrever como aquilo que era, e é, verdadeiramente, para mim. É a penitência que se faz pelo facto de não se ser feliz. É uma tentativa para alcançar os outros e fazer com que nos amem. É o protesto instintivo, quando se descobre que se não tem voz nos tribunais do mundo, e que ninguém falará por nós. Eu daria toda a minha produção de palavras, passada, presente e futura, em troca de um acesso mais fácil ao mundo, da permissão de dizer: «Eu magoo», «Eu odeio» ou «Eu quero». Ou «Olhem para mim», deveras. E isto nunca o desmentirei. Porque, uma vez conhecida, uma coisa não pode nunca mais ser desconhecida. Apenas poderá ser esquecida. E escrever é o inimigo do esquecimento, da irreflexão. Para o escritor não há qualquer olvido. Somente a infindável recordação."
in Anita Brookner, Olhem para mim, Editorial Teorema, 1988, pág. 95
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