Nunca fui a Angola. Aliás nunca estive em África. Não foi para lá que os meus pais escolheram ir quando quiseram fugir da vida dura da aldeia onde nasceram. Nunca visitei a família que lá tinha nem a que continuo a ter. Não fui a Marrocos no início da idade adulta, como alguns amigos meus. Nunca passei férias em Cabo Verde. O mais próximo que estive desse continente foi quando, numa viagem pelo Sul de Espanha, andei pela zona de Gibraltar.
Mas em todos os (ou em muitos) portugueses a ligação a alguns países africanos é evidente e alicerçada na História e em histórias individuais significativas. Mesmo assim, temos muita dificuldade em compreender muitas das coisas que se passam ali. São factores geográficos, históricos, antropológicos, que nos impedem de nos colocarmos no lugar dos africanos. São os factores económicos e políticos com contornos diferentes dos que guiam por aqui estas actividades. A mesma língua, as ligações familiares, as relações de trabalho, os negócios de grandes empresas que se entrelaçam cá e lá estão, no entanto, demasiado presentes para que nos possamos afastar do que se passa nesses países.
E esta semana, em Angola, aconteceu algo que podia ser descrito como incrível, inesperado, inimaginável mas que afinal, tendo em conta o que se sabe do regime angolano, não é nada dessas coisas: 17 pessoas foram condenadas a penas de prisão porque, diz o tribunal de Luanda, planeavam uma rebelião e portanto eram criminosos. Quem acompanhou o processo (e não era membro do tribunal, claro) destaca que, durante o julgamento, não foram apresentadas provas que justificassem as penas aplicadas. Pelo que se sabe de concreto aquele grupo de pessoas estavam juntas a discutir e a dar a sua opinião sobre o país e o seu presidente. Sim, foi isso que foi considerado um crime contra a segurança do Estado. A defesa irá recorrer. Mas será possível que o regime angolano se revele permeável aos argumentos e à pressão que lhe chega do exterior? O que é a opinião internacional para os que não consideram a opinião como um direito mas como um delito?
E esta semana, em Angola, aconteceu algo que podia ser descrito como incrível, inesperado, inimaginável mas que afinal, tendo em conta o que se sabe do regime angolano, não é nada dessas coisas: 17 pessoas foram condenadas a penas de prisão porque, diz o tribunal de Luanda, planeavam uma rebelião e portanto eram criminosos. Quem acompanhou o processo (e não era membro do tribunal, claro) destaca que, durante o julgamento, não foram apresentadas provas que justificassem as penas aplicadas. Pelo que se sabe de concreto aquele grupo de pessoas estavam juntas a discutir e a dar a sua opinião sobre o país e o seu presidente. Sim, foi isso que foi considerado um crime contra a segurança do Estado. A defesa irá recorrer. Mas será possível que o regime angolano se revele permeável aos argumentos e à pressão que lhe chega do exterior? O que é a opinião internacional para os que não consideram a opinião como um direito mas como um delito?
Afonso "M'banza Hanza", Albano Bingo Bingo, Arante Kivuvu, Benedito Jeremias, Domingos da Cruz, Fernando António Tomás, Hitler Tshikonde, Inocêncio de Brito, José Hata, Laurinda Gouveia, Luaty Beirão, Manuel Chivonde, Nélson Dibango, Nuno Dala, Osvalgo Caholo, Rosa Conde, Sedrick de Carvalho cometeram esse "grave delito" e por isso viram-se privados da sua liberdade.
As frases bonitas que se podem dizer e citar a propósito não terão nenhum impacto. Os posts em blogues também pouco terão. Mas, nestes dias, nunca tendo ido a Angola, não sendo eu representante do governo nem do parlamento; mas apenas cliente de empresas em que o capital angolano está presente e estando a uma distância, física e de contexto político, bem confortável; apetece-me manifestar a minha tristeza não só pela incapacidade de um país lidar com as exigências dos regimes democráticos mas pelo facto de que os que mais deviam defender a verdade, dela se afastam de forma tão gritante.
As frases bonitas que se podem dizer e citar a propósito não terão nenhum impacto. Os posts em blogues também pouco terão. Mas, nestes dias, nunca tendo ido a Angola, não sendo eu representante do governo nem do parlamento; mas apenas cliente de empresas em que o capital angolano está presente e estando a uma distância, física e de contexto político, bem confortável; apetece-me manifestar a minha tristeza não só pela incapacidade de um país lidar com as exigências dos regimes democráticos mas pelo facto de que os que mais deviam defender a verdade, dela se afastam de forma tão gritante.
Estive em Angola por uma vez. Aquele calor fica-nos para sempre (sim, é como nos livros ou nos filmes). É precisa muita Cuca para lidar com ele.
ResponderEliminarAlertaram-me para evitar mosquitos e para conviver com a corrupção. A profilaxia da malária é desagradável, mas pior é a sensação de falta de liberdade, de ter de aceitar a despudorada promiscuidade entre a administração pública e o capital.
Pior do que tudo isso? O desejo de voltar!
Parece haver unanimidade nessas sensações de que falas... O "desejo de voltar" a que te referias era o de voltar lá?
EliminarÉ. Digo "pior" no sentido em que me culpabilizo por esse desejo.
EliminarQue diria a minha mãe que, sentindo a emoção de lá ter nascido, para lá foi na década de 70 motivada para ajudar a reconstruir um país. Teve que voltar depressa, pois esta Angola estava já a formar-se. E a hipocrisia portuguesa a seu respeito também.
ResponderEliminarEstaria certamente muito triste... Se bem que estes sentimentos que agora temos nada alteram a realidade daquelas pessoas...
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