sábado, 3 de janeiro de 2015

A terceira e a sétima

Integrar a pintura no cinema é algo que nem todos conseguiriam fazer da forma como Mike Leigh fez. Mr. Turner, artista reconhecido e ao mesmo tempo incompreendido na Inglaterra do seu tempo, precursor nas técnicas, capaz de absorver, quer a natureza mais selvagem, quer as mais recentes inovações da era industrial; é-nos apresentado como alguém excêntrico mas absolutamente humano, capaz de actos tão elevados quanto censuráveis.
Mas o filme, se se centra na figura do pintor, leva-nos a conhecer melhor a sua obra e vai muito para lá de uma simples história de vida (dos seus últimos anos e que não nos é contada, apenas sugerida). Compreendemos as suas fontes de inspiração, percebemos as relações com os pintores seus contemporâneos, com os críticos, com os compradores das obras, com o público ou os públicos e a forma como estes olhavam o seu trabalho. E com esta abordagem entendemos melhor a sociedade inglesa da época com tantos pormenores que nos vão sendo dados a ver. 
Timothy Spall, no papel principal, está de facto fantástico e Dorothy Atkinson é também excelente como a mulher que mesmo tratada com crueldade nunca deixa de amar o seu patrão.
A fotografia do filme, fundamental e sob os holofotes com um tema como este, está à altura e cenas há que nos deixam com um sorriso de satisfação. Numa das cenas, uma das que mais gostei, um comboio, maravilha da tecnologia da época, surge real, para se transformar no tema de uma das pinturas que vemos imediatamente a seguir. O filme vale por si e por aquilo que nos sugere. As duas artes estão bem representadas, portanto.

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