Numa mão o chapéu de chuva que servia de bengala. Na outra o saco de plástico. Os artigos que trazia hoje para vender eram "carteirinhas para o passe". Ali ninguém lhe comprou nada. Arrastando os pés, passou então à carruagem seguinte.
As pantufas que trazia calçadas, que causam estranheza nestes dias quentes, (ou noutros, se pensarmos que não é suposto serem trazidas para a rua) estavam cheias de um pó branco por cima. Imaginei-as, de noite, junto a uma parede, onde a caliça vai caindo, numa casa em que o abandono a que é votada é semelhante ao que é votado o seu ocupante.
E imaginei-o a ele. A sonhar. Um sonho em que lhe bastava uma carruagem para vender tudo o que trazia. E a sair com um sorriso, na direcção de uma sapataria.
Imaginação tua, poderia não ser esse o destino se conseguisse (terá conseguido?) vender as carteiras do passe? Esperemos que sim, também gosto de procurar e acreditar positivo, mas nem sempre consigo...
ResponderEliminarDuvido muito que tenha conseguido vender tudo, António. E duvido muito que fosse comprar outro calçado. É que as pantufas devem ser o mais confortável que existe para quem, com aquela idade, anda o ano todo, de carruagem em carruagem, a vender as mais variadas coisas.
ResponderEliminarexcelente.
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