Em todas as famílias há um. Nele há fotografias dos que já morreram há muito tempo e que já não chegámos a conhecer, dos que desapareceram mas dos quais recordamos histórias que com eles partilhámos, dos que ainda fazem parte do nosso presente, nós próprios no passado, no máximo dos máximos, um passado próximo. É com ele, com o álbum de família, que muitas vezes despertamos as nossas memórias, convocando personagens que se cruzam connosco em espaços e tempos que nem sempre correspondem ao efectivamente vivido.
Assim acontece com José Luís, a personagem principal da peça, escrita por Rui Herbon, que ganhou, em 2010 o "Grande Prémio de Teatro Português SPAutores / Teatro Aberto". Com ele ficamos a perceber, como recorda a avó, figura sempre presente que ele tem que constantemente lembrar a si próprio, nas suas próprias lembranças, que já está morta; a irmã, sonhadora, que ainda acredita na possibilidade de apanhar o comboio certo; o pai que, tolhido pelo medo de a família ser castigada caso as regras não sejam cumpridas, pouca força tem para lutar; a mãe, ferida pela vida, mas que, movida por um instinto de sobrevivência, vai seguindo em frente.
Diz o próprio autor: "O álbum de família" dramatiza a viagem iniciática empreendida pelo seu jovem protagonista rumo à idade adulta. Toda a família tentará apanhar um comboio ao qual, no fim, só subirá o adolescente José Luís, momento em que o pai lhe entrega o álbum de família. O jovem projecta o seu olhar por esse álbum e, enquanto observa as fotografias, tenta reconstruir-se a si mesmo, tenta voltar atrás para saber para onde vai. Para isso indaga nas suas origens, nos seus sentimentos, medos, sonhos e frustrações que se escondem por detrás das fotografias." (Na brochura criada a propósito do espectáculo).
Gostei bastante do cenário (Rui Francisco) e da música (Pedro Jóia). Das interpretações destacam-se, quanto a mim, Jorge Corrula (José Luís) e Fernanda Neves (a mãe). Até ao final de Maio podem ir ver se concordam comigo.
Sem comentários:
Enviar um comentário