O Lôbo e a Raposa
Raposa esfomeada
(Pois que para roer nem tinha um osso!)
Viu no fundo de um pôço
A lua retratada.
A orbicular figura um queijo crê
E pula de contente!
Água dois baldes alternadamente
Dêsse pôço tiravam. No que vê
Suspenso pelo pêso do segundo
Do pôço desce ao fundo;
Mas - coitada! -
Viu que fôra lograda e bem lograda!
«Em maus lencóis, dizia, eu vou achar-me!...
A menos de que alguém, como eu, com fome,
Por queijo a lua tome
E fazendo o que eu fiz, venha salvar-me.»
Nisto, com sêde, um lôbo se aproxima
E quere beber no pôço. Ao vê-lo em cima,
Diz-lhe a raposa muito amávelmente:
«Desça, desça , compadre!... vou presente
Fazer-lhe dêste queijo - convencida
De que outro assim não vê neste arrabalde»
O lôbo desce pronto, e na descida
Faz subir a raposa no outro balde.
Que motivo de riso isto não seja;
Dá-se o mesmo connosco exactamente:
Qualquer de nós crê sempre facilmente
Tudo o que teme e tudo o que deseja.
Luís de Macedo
in La Fontaine Fábulas (escolhidas) edição organizada por Matias Lima, Livraria Chardron de Lello & Irmão, Porto, p. 154
Sem comentários:
Enviar um comentário