quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A noiva careca

Chovia. Chovia muito. Numa imobilidade total em frente à montra deixava que os seus cabelos, compridos e desgrenhados, absorvessem essa chuva que caía, sem aproveitar o pequeno toldo que lhe poderia servir de abrigo. Mas não é exactamente no grupo dos sem-abrigo que o costumam colocar? A rua era escura e a luz da loja, apesar de muito branca, iluminava pouco o exterior. Era como se toda a luminosidade se concentrasse lá dentro, onde os manequins femininos exibiam vestidos de noiva, também eles brancos e cheios de brilhos. O seu olhar pousava num desses vestidos ou num desses manequins que o proprietário da loja entendeu deixar sem cabeleira. Seria isso que o deixava tão absorto? Ou seria antes alguma recordação de um passado menos sombrio, menos cheio daquela solidão que o tinha levado até ali?

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