segunda-feira, 20 de julho de 2009

"If you believe they put a man on the moon"

Teorias da conspiração à parte (e eu sou das que acredito que tudo é possível!) sempre acreditei neste feito, não sei se mais científico, se mais político, que encheu de orgulho americanos e humanos em geral. E acho que nós portugueses sempre sentimos alguma afinidade com a colocação daquela bandeira em solo lunar, à semelhança dos padrões erguidos pelos nossos antepassados em terras conquistadas!

Deixo, por isso, um poema que nos lembra que a novidade, afinal, está no local onde a pegada foi deixada e não no homem que a fez!

Poema do Homem Novo

Neil Armstrong pôs os pés na Lua
e a Humanidade saudou nele
o Homem Novo.
No calendário da História sublinhou-se
com espesso traço o memorável feito.

Tudo nele era novo.
Vestia quinze fatos sobrepostos.
Primeiro, sobre a pele, cobrindo-o de alto a baixo,
um colante poroso de rede tricotada
para ventilação e temperatura próprias.
Logo após, outros fatos, e outros e mais outros,
catorze, no total,
de película de nylon
e borracha sintética.
Envolvendo o conjunto, do tronco até aos pés,
na cabeça e nos braços,
confusíssima trama de canais
para circulação dos fluidos necessários,
da água e do oxigénio.

A cobrir tudo, enfim, como um balão ao vento,
um invólucro soprado de tela de alumínio.
Capacete de rosca, de especial fibra de vidro,
auscultadores e microfones,
e, nas mãos penduradas, tentáculos programados,
luvas com luz nos dedos.

Numa cama de rede, pendurada
da parede do módulo,
na majestade augusta do silêncio,
dormia o Homem Novo a caminho da Lua.
Cá de longe, na Terra, num burburinho ansioso,
bocas de espanto e olhos de humidade,
todos se interpelavam e falavam,
do Homem Novo,
do Homem Novo,
do Homem Novo.

Sobre a Lua, Armstrong pôs finalmente os pés.
Caminhava hesitante e cauteloso,
pé aqui,
pé ali,
as pernas afastadas,
os braços insuflados como balões pneumáticos,
o tronco debruçado sobre o solo.

Lá vai ele.
Lá vai o Homem Novo
medindo e calculando cada passo,
puxando pelo corpo como bloco emperrado.

Mais um passo.
Mais outro.
Num sobre-humano esforço
levanta a mão sapuda e qualquer coisa nela.
Com redobrado alento avança mais um passo,
e a Humanidade inteira,
com o coração pequeno e ressequido,
viu, com os olhos que a terra há-de comer,
o Homem Novo espetar, no chão poeirento da Lua, a bandeira da sua Pátria,
exactamente como faria o Homem Velho.

António Gedeão, in 'Novos Poemas Póstumos'

2 comentários:

  1. Sobre a ida do Homem à lua, não resisti e passo a citar uma passagem do livro de António Muñoz Molina, O Vento da Lua:
    "(...)Parecer-lhe-ia mentira ter pertencido àquele mundo, ter-se afastado dele apenas um ou dois dias antes. (...) Não havia em cima nem em baixo, nem dia nem noite, nem amanhã nem ontem. Há uma força que atrai os corpos celestes entre si e outra que os afasta nas ondas expansivas de uma grande explosão que teve lugar há quinze milhões de anos. Tu és menos do que um montículo de poeira, do que uma centelha de fogo, do que um átomo, do que um electrão girando em torno do núcleo a uma distância proporcionalmente equivalente à que separa Saturno ou Úrano do Sol: és menos ainda do que uma dessas partículas elementares de que são feitos os electrões e os protões e os neutrões do núcleo. E todavia tens uma consciência, uma memória, um cérebro feito de células tão inumeráveis como as estrelas da galáxia, entre as quais circulam as descargas eléctricas das imagens e as sensações à velocidade da luz. (...)"

    Gostei imenso do tema! Bj Clara Granja

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  2. Obrigada pela citação e pela visita. Espero "ver-te" mais vezes por aqui!

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