quarta-feira, 20 de maio de 2015

Catarina era o seu nome

Foi em 19 de Maio de 1954 que Catarina Eufémia foi morta. Discussões à parte (entre os que defendem que esta mulher pertencia, na altura, ao Partido Comunista Português e os que defendem que o partido se apoderou da situação tendo criado um mito que serviu para reforçar a sua identidade) o que é facto é que aquele acontecimento perdura na memória da terra onde tudo aconteceu e, de forma mais ou menos presente, na dos portugueses em geral. 
No meu caso, como no de muitos outros, foi na canção de Zeca Afonso, ouvida na adolescência, que ouvi falar dela pela primeira vez. Uma mulher tão nova e tão corajosa era uma figura que só me podia causar admiração. Continua a causar, claro. Mas percebi depois que, a existir, a sua inspiração heróica estaria misturada com o acaso e que a sua história era a de uma mulher com uma família, com três filhos pequenos (a mais velha com 6 anos, o mais novo com 8 meses), que sofreram, mais que ninguém, com a situação. 
Esta perspectiva foi muito bem desenvolvida na reportagem "Catarina é o Meu Nome" de Maria Augusta Casaca que passou na TSF em Abril de 2013 e de que me lembrei ontem ao ler que este acontecimento fazia 61 anos. Nela se dá conta, por exemplo, de que a família nunca teve a possibilidade de decisão sobre o corpo, tomado a seu cargo primeiro pelas autoridades do Estado Novo e depois pelo PCP; que os seus filhos foram colocados em instituições e separados; que os que lhe estavam mais próximos e os habitantes de Baleizão nunca se puseram de acordo em relação ao seu papel na história. 
O seu túmulo conta uma versão que, mesmo que possa ser discutível, é ilustrativa de uma época importante do nosso passado recente. Ir para além dela, numa abordagem mais humana foi o que aquela reportagem conseguiu fazer. (Quem queira pode ouvi-la em podcast aqui).

2 comentários:

  1. Muito pertinentes as tuas palavras.

    Catarina podia ser um símbolo da Liberdade e da resistência, de todos, e não apenas de um partido, que ainda hoje se julga "único dono da liberdade e da resistência".

    E eu sei do que falo, Ana, pois vivo em Almada, onde apenas o povo é democrata (ou pelo menos pensa que é).

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    1. Pois. Por um lado compreende-se essa "apropriação" por parte do PCP uma vez que, à época, eles seriam certamente os únicos a lutar abertamente e a sofrer as consequências dessa luta. Mas que, tantos anos depois, se mantenham ainda estas dúvidas, por estes motivos, é que já não faz muito sentido. Mas, de facto, enquadra-se na atitude geral do partido.

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