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No meu caso, como no de muitos outros, foi na canção de Zeca Afonso, ouvida na adolescência, que ouvi falar dela pela primeira vez. Uma mulher tão nova e tão corajosa era uma figura que só me podia causar admiração. Continua a causar, claro. Mas percebi depois que, a existir, a sua inspiração heróica estaria misturada com o acaso e que a sua história era a de uma mulher com uma família, com três filhos pequenos (a mais velha com 6 anos, o mais novo com 8 meses), que sofreram, mais que ninguém, com a situação.
Esta perspectiva foi muito bem desenvolvida na reportagem "Catarina é o Meu Nome" de Maria Augusta Casaca que passou na TSF em Abril de 2013 e de que me lembrei ontem ao ler que este acontecimento fazia 61 anos. Nela se dá conta, por exemplo, de que a família nunca teve a possibilidade de decisão sobre o corpo, tomado a seu cargo primeiro pelas autoridades do Estado Novo e depois pelo PCP; que os seus filhos foram colocados em instituições e separados; que os que lhe estavam mais próximos e os habitantes de Baleizão nunca se puseram de acordo em relação ao seu papel na história.
O seu túmulo conta uma versão que, mesmo que possa ser discutível, é ilustrativa de uma época importante do nosso passado recente. Ir para além dela, numa abordagem mais humana foi o que aquela reportagem conseguiu fazer. (Quem queira pode ouvi-la em podcast aqui).
Muito pertinentes as tuas palavras.
ResponderEliminarCatarina podia ser um símbolo da Liberdade e da resistência, de todos, e não apenas de um partido, que ainda hoje se julga "único dono da liberdade e da resistência".
E eu sei do que falo, Ana, pois vivo em Almada, onde apenas o povo é democrata (ou pelo menos pensa que é).
Pois. Por um lado compreende-se essa "apropriação" por parte do PCP uma vez que, à época, eles seriam certamente os únicos a lutar abertamente e a sofrer as consequências dessa luta. Mas que, tantos anos depois, se mantenham ainda estas dúvidas, por estes motivos, é que já não faz muito sentido. Mas, de facto, enquadra-se na atitude geral do partido.
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