Ela tinha uma casa. Já era da sua mãe mas ela queria-a também para si. Tinha vivido ali toda a sua vida e, apesar de ser um pequeno apartamento no subúrbio da cidade, sempre a tinha sentido como o lugar onde queria regressar ao final de cada dia, cansada de tantas horas em pé no cabeleireiro daquele centro comercial onde nunca via a luz do dia.
Talvez por isso, do que mais gostava era do sol que lhe entrava todas as manhãs pelo quarto e que à tarde tornava a sala acolhedora.
Depois veio a construção do viaduto onde tão poucos carros passam. Levam dentro pessoas que não sabem que a sala perdeu aquele brilho dourado ao fim do dia, aquela luz suave que dava diferentes cores à parede branca.
A seguir, do outro lado, resolveram construir uma torre de escritórios. Uma torre de uma altura tal que nem se percebe, olhando para ela, quantos andares tem. Passados alguns anos essa torre continua praticamente vazia. Os poucos interessados que visitam o apartamento-modelo, com uma vista magnífica, segundo o vendedor, nem sequer olham para o prédio, que agora parece ainda mais pequeno; nem fazem a mínima ideia de tudo o que ela perdeu.
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