quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Olhares que não se cruzam

Gosto do Largo do Regedor, em Lisboa. Tem uma dimensão muito simpática, os edifícios são interessantes, o espaço público está bem cuidado.  Em relação aos frequentadores é heterogéneo o suficiente para ter uma amostra de vários elementos de diferentes camadas da sociedade. Ocupando os degraus das traseiras do Teatro Nacional encontramos os sem-abrigo que ali vão dormindo, comendo, estando. Em fila, que começa do outro lado do teatro, os taxistas esperam os clientes. À espera, também, estão os motoristas de carros novos, grandes e luzidios ali estacionados e que ocupam grande parte do largo, sob o olhar protector do agente da polícia, de serviço ali na esquadra. Esperam que saiam, pela porta mais discreta, aqueles que, depois de um almoço cujo preço eu só posso imaginar (que o Gambrinus não é de fazer menus económicos) se sentarão naqueles estofos limpos e a cheirar a novo.
Interessante é notar que, se no caso dos sem-abrigo tem havido um aumento do seu número, já a quantidade de carros para onde entram os que acabam de sair do restaurante não parece diminuir, antes pelo contrário. E se o olhar dos primeiros segue estes últimos, quem sai de barriga cheia não olha à sua volta.

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