terça-feira, 16 de outubro de 2012

Como míscaros, os homens

Vento sul-sudoeste fraco; céu nublado. Tempo de míscaros. Matérias orgânicas que alastram nos muros e nos fossos, bolores negros, lodos, fungos, vidas persistentes, possuídas de uma animação vegetal crescendo sobre a decomposição, sobre a ruína, nos lôbregos refegos da terra, nos podres esconsos, nos charcos parados, debruados de lamas. Como míscaros, os homens parecem brotar na rua, ressumar das pedras, pardos e cor de azebre, cor de pão de rala, com as suas faces vazias, as mãos que são como raízes impregnadas de água.

in Agustina Bessa-Luís, Contos Impopulares - Míscaros, Guimarães Editores, 2004, pág. 15

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