Este mês de Agosto de que falo é o do ano passado. Não sei se esta estória se poderia passar agora mas há alguma probabilidade que assim seja.
Um amigo, que não é de Lisboa, pediu-me para ir à Torre do Tombo levantar umas fotocópias de um documento cujo pedido ele tinha feito.
Tudo começou por um telefonema, que tinha como objectivo saber se estava tudo pronto, feito para o balcão de fotocópias em que o senhor que atendeu me explicou que, dadas as férias de alguns funcionários, a satisfação do pedido teria que ser adiada.
Algum tempo mais tarde voltei a ligar e falei com uma senhora, muito simpática (demasiado simpática, diria eu) que, depois de me assegurar que as fotocópias estavam tiradas, me confidenciou alguns factos do seu dia-a-dia. Queixou-se de ter ficado sozinha durante o mês de Agosto e por isso ter imenso trabalho. Perguntei-lhe se estavam abertos à hora de almoço pois era essa a indicação que tinha. Respondeu: “aberto à hora de almoço? Não! Eu chego por volta das 10. Depois à hora de almoço o balcão está fechado. E à tarde fecha às 16, mas não venha mesmo a essa hora porque, como preciso de fechar a caixa, convém estar despachada 10 minutos antes”.
Uns dias mais tarde, quando tive disponibilidade, lá fui eu, logo de manhã, convencida que seria chegar lá e levantar as fotocópias, sem qualquer problema. Pois estava enganada. Cheguei por volta das 10.10. O segurança, na entrada, disse-me logo que “a Vera” ainda não tinha chegado. Às 10.30, depois de, de livro aberto à minha frente, ter passado pelas brasas, sentada num sofá muito confortável, voltei a perguntar a uma senhora, que estava sentada numa mesa à entrada de uma sala, que me confirmou que a funcionária ainda não estava.
Dez minutos depois observei algum movimento no interior da sala contígua ao tal balcão das fotocópias, que não tinha deixado de estar no meu campo de visão. Aí me dirigi, acreditando que desta é que era. Mas, por mais que visse a sombra de alguém passar de um lado para o outro, ninguém se chegou ao balcão, ignorando o meu chamamento.
Quando finalmente “a Vera” se abeirou de mim e lhe disse o que pretendia, sem que eu tivesse feito qualquer referência ao tempo de espera, perguntou-me pelo papel (verde, acho eu) que eu não tinha pois estava na posse do meu amigo, mas que já tinha confirmado, ao telefone, que não seria imprescindível. Lá lhe dei o número do pedido e ela lá foi procurar as cópias. Entretanto chegaram, quase em simultâneo, dois senhores, um deles estrangeiro. Depois de ter interrompido várias vezes a busca para me vir dizer que não estava a encontrar nada (ao que eu lhe respondia que me tinha confirmado que já estavam tiradas as fotocópias) e ter atendido uma técnica que trabalhava no local, a quem tratava apenas por doutora, e que lhe pedia clips e perguntava pela saúde e disposição; a Vera veio perguntar-me se, uma vez que não estava a encontrar o que procurava, eu me importaria que ela atendesse os senhores que, entretanto, já estavam a ficar impacientes.
Nesse momento eu não aguentei mais e expliquei-lhe que estava ali desde as 10.10 e que não iria ficar muito mais tempo mas que queria levar aquilo que tinha ido buscar. Isto fez a senhora perder mais algum tempo em justificações do género: “eu estava aqui às 10 (quando os colegas me tinham dito o contrário) mas, como estou sozinha, tive que ir aqui e ali e acolá para distribuir expediente”.
Mas, pelos vistos, resultou porque, na incursão seguinte na sala do lado, lá encontrou as cópias.
Pensava eu que o assunto ficaria resolvido. Mas ainda demorou um pouco mais. A “doutora dos clips” ainda voltou para pedir mais algum material. Entretanto, para ser possível passar o recibo, era preciso, para além do nome, o número de contribuinte que, como eu não tinha, originou mais um tempo de hesitação. Finalmente, depois de atender uns telefonemas, e de alguma dificuldade com os trocos, que teve que ir buscar a outro sítio (era o primeiro pagamento do dia) lá me deu o recibo, não sem antes me recomendar, com muita ênfase, que o papel verde teria que ser destruído, ao que eu prometi que seria feito.
E assim foi. Mais de uma hora depois, consegui finalmente sair do edifício levando na mão o envelope com as fotocópias e na minha cabeça a certeza que nunca iria conseguir esquecer a Vera.
(O nome da funcionária foi alterado)
a burocracia acompanhada por muito desleixo deste país, fascina-me.
ResponderEliminarA burocracia em si não é uma coisa má. Mas demasiadas vezes serve de desculpa para situações que poderiam ser ultrapassadas de uma forma muito mais eficiente se houvesse vontade de o fazer.
ResponderEliminarEste país está cheio de lesmas... um bicho que até admiro... como a dita Vera...
ResponderEliminarAs pessoas julgam que estes trabalhos de elevada responsabilidade são fáceis. A Vera é uma esforçada funcionária que tem de aturar os humores de quem, pelos vistos, não tem nada que fazer e pode ficar uma manhã à espera de umas fotocópias...
ResponderEliminar;)
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