Esquina sim, esquina não, lá estão eles: os homens e as mulheres das capas pretas. Mesmo que faça muito calor, mesmo que as meias de vidro que cobrem as pernas das raparigas pareçam tão ridículas quanto a maior parte dos emblemas cosidos às capas. Desde os que dizem respeito aos concelhos (ligados por motivos vários à vida de quem a usa) até aos que transmitem conselhos a quem os lê, parece que, inclusivamente, existem regras específicas para a sua colocação.
A ligação não é directa mas, nesta altura do ano, lembramo-nos inevitavelmente das praxes que pretendem a integração no espírito académico dos chamados caloiros. Por estes dias a cena repete-se nos locais públicos das cidades onde existem universidades ou outras instituições ligadas ao ensino superior. Um grupo de jovens com os tais trajes académicos (as lojas que vendem os trajes viram, nos últimos anos, o seu negócio aumentar) mistura-se com outro grupo de jovens, "vestidos à civil". Estes, obrigados pelos primeiros, cumprem uma série de ordens mais ou menos ridículas que incluem quase sempre andar de gatas e cantar umas canções. Parece que é tradição. Nos últimos anos, após se ter tomado conhecimento da dureza de algumas praxes, (dizem que Dura Praxis, Sed Praxis) surgiram vários movimentos de contestação àquelas práticas sendo bastante conhecidas as cartas às universidades do Ministro do Ensino Superior, Mariano Gago ou os manifestos anti-praxe assinados por personalidades mediáticas do mundo da literatura ou da música. E por falar nisso: sabiam que, já no final do séc. XIX, Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão assinaram um manifesto desse género?
Eu, que sempre me queixei da falta de espírito académico na Universidade que frequentei, sinto-me bastante satisfeita por ter por lá andado numa época em que estas "tradições" estavam adormecidas. E para bem dos estudantes (caloiros e não só) e dos transeuntes que se deparam com estes espectáculos nas ruas, deixem-nas adormecer novamente...
Viver na Alemanha tem muitas desvantagens: estar longe da família, o Inverno que nunca mais acaba, o raramente falar Português...
ResponderEliminarMas aqui, pelo menos, não há trajes nem praxes académicos. Viva!!!
P.S. Os estudantes universitários aqui são seres bastante discretos, que usam roupas muito desportivas e práticas. Uff!
Felizmente, Kátia, aqui a maioria também é assim. E mesmo em relação aos que querem usar os trajes académicos têm o direito de o fazerem. O problema são mesmo as praxes quando elas colidem com a liberdade individual de cada um.
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