Todas as alturas são boas para falar de educação e é após o final de mais um ano lectivo, e em plenas férias escolares, que vou reflectir sobre um assunto que me acompanhou durante todo o ano. Para mais, nestes dias, em que a comunicação social tem falado dele novamente. É certo que dentro deste grande tema há inúmeros assuntos que têm sido discutidos, até à exaustão, há anos e anos, pelo menos, desde que todos podemos manifestar a nossa opinião. E é aqui que muitos vão buscar a grande viragem operada na educação no nosso país. E é claro que têm razão.
Foi a partir de 1974, ou melhor, a partir da altura em que se verificou uma organização mínima dos governos, que alguns políticos e técnicos definiram a maioria das bases que estão ainda presentes, actualmente, na política seguida para esta área. Algumas como a democratização do ensino, a igualdade de oportunidades, ou seja o acesso de todos à educação, são inquestionáveis. Podemos, no entanto, logo aqui, começar a levantar problemas. Ainda hoje este acesso não é igual em todas as regiões do país, em todas as classes sociais, em todas as categorias económicas, etc., mas só o facto de, na legislação, isso estar salvaguardado, já é um enorme avanço. Não nos podemos esquecer que, ainda há menos de um século, se discutia a pertinência de ensinar o povo a ler. (A propósito da educação durante o Estado Novo o livro de Maria Filomena Mónica “Educação e Sociedade no Portugal de Salazar” é um documento fundamental.) Mesmo depois de Salazar e antes do 25 de Abril, se a escola se abriu muito mais, também é verdade que o estímulo da capacidade de pensar dos alunos só era feita, de forma individualizada, por professores que entendiam ser esse o seu papel e não porque constituísse um objectivo do sistema em si. Eu própria, que passei pelas duas situações (pré e pós 25 de Abril), como aluna, pude perceber a diferença entre um ensino e outro.
Na escola primária, considero que tive um excelente ensino ao nível do português e da matemática, por exemplo, mas sei que não me abriram qualquer horizonte a outros níveis. Quando passei para o ciclo seguinte, já no pós 25 de Abril, os professores e os programas alertavam para outras realidades que nos permitiam questionar uma série de ideias feitas, o que é imprescindível. Mas, na realidade, desde essa altura para cá, sempre houve imensas lacunas.
Voltando ao presente! A minha filha mais velha frequentou, este ano, o 5.º ano numa escola pública (a opção pelo público foi tomada desde o 1.º ano e continua a ser a que considero mais certa). Não sei se a situação é diferente no ensino particular, nas outras escolas, ou nas outras turmas. Segundo a comunicação social, e alguns amigos com filhos no mesmo nível, não será. Na realidade, o que pude acompanhar deixa-me assustada. As notas que ela teve foram muito boas. Eu acho que nunca tive notas assim, naquele nível. No geral, a turma teve notas boas. Houve apenas um aluno que não transitou. Ora aí é que está a questão. O acompanhamento que eu fiz, ao longo do ano, permite-me perceber que, tanto no caso da minha filha, como no caso dos seus colegas, as notas atribuídas foram muito inflacionadas. Não me parece que a exigência fosse baixa. Mas, como a retenção dos alunos é tão difícil e há poucos conselhos de turma, como o da escola de Darque, que assumam situações como a que foi divulgada, mesmo os alunos que tiveram uma prestação muito fraca, acabam por ter uma fila de 3 na pauta. Ora, se estes têm 3, os que são alunos médios têm 4 e os que se destacam um pouco mais têm 5. Não são raros os casos de linhas inteiras de cincos.
E se é verdade que o estímulo positivo, dado por boas notas, pode ser saudável, também não é menos verdade que, quando os resultados não correspondem ao esforço despendido, os miúdos ficam com uma percepção falsa das suas capacidades e intuem que não é necessário trabalhar mais para atingir esses bons resultados, contrariando o que os pais lhes tentam incutir.
Uma das minhas grandes preocupações é exactamente essa. Não podemos atirar para o sistema educativo a totalidade do ónus da educação. É óbvio que há situações de famílias e meios sociais que obrigam a uma intervenção da escola a níveis de que, muitas vezes, não nos lembramos, mas, de modo geral, as capacidades dos pais, de intervirem na educação dos filhos, não são exploradas o suficiente. Quando eu andava nesta fase da vida escolar a questão do enquadramento familiar e das disponibilidades, fora da escola, faziam a diferença. E os pais nem precisavam de se preocupar muito. O facto de aprendermos a ler, a ler bem, facilitava a nossa busca de outros saberes que a escola não dava. Queríamos ler tudo o que aparecia, víamos na televisão programas que nos ensinavam coisas muito interessantes, a par, claro, dos de puro divertimento. Mas era a leitura que fazia a diferença! E é aí que penso que o problema é maior hoje em dia. Pois, lá vem a história das séries de televisão tipo “Morangos com Açúcar”, as Playstations, os jogos na internet… Somos nós, os pais, que temos que controlar o uso de todos esses meios, que estimular a leitura, que os fazer ver outros programas de televisão e fazer tantas outras coisas que são, acima de tudo, responsabilidade nossa.
Mas será que sou só eu a pensar assim ou é mesmo difícil, actualmente, cumprir o nosso papel?
(Mas que enorme texto... desculpem, acho que isto não se deve fazer nos blogues!)