domingo, 27 de novembro de 2016

You are beautiful

Quando Brel morreu eu nem sabia sequer da sua existência. Por isso não tinha qualquer noção de como as canções que escreveu iriam fazer parte da minha vida. A sua morte só me doeu mais tarde quando o conheci através dessas canções.
A Cohen conheci-o mais ou menos na mesma altura. A nossa adolescência é um período que deixa marcas e a música que ouvimos nessa fase acompanha-nos sempre. As suas canções primeiro, os seus poemas depois, cá continuam, comigo. A eles regresso como sempre se regressa aos clássicos. Cohen foi um poeta maravilhoso e soube acrescentar valor aos seus poemas com a música que, no seu caso, o elevava e nos eleva. Agora que morreu estranha-se esta dor de saber que não teremos novas canções. Consola-nos o facto de, tal como Bowie, Leonard Cohen se ter despedido de nós com a sua arte, deixando-nos a sensação de sermos uns privilegiados. Se uns dias antes da sua morte deixei aqui um poema em canção, deixo agora, como já tinha feito há uns anos, um poema sem canção.

My time

My time is running out
and still
I have not sung
the true song
the great song

I admit
that I seem
to have lost my courage

a glance at the mirror
a glimpse into my heart
makes me want
to shut up forever

so why do you lean me here
Lord of my life
lean me at this table
in the middle of the night
wondering
how to be beautiful

in Leonard Cohen, Livro do Desejo, Vila Nova de Famalicão, Edições Quasi, 2008, p. 178

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