Não é fácil confortar uma filha que, aos 16 anos de idade, acorda e percebe qual foi o resultado das eleições presidenciais nos EUA. Neste mundo que nos faz estar tão perto de um país do outro lado do oceano, ela tinha, desde o início do processo eleitoral, sentido uma grande simpatia por Bernie Sanders e não percebia como não tinha sido ele o escolhido para se candidatar pelo partido democrata. Mas disto é que ela não estava mesmo à espera. As suas lágrimas são semelhantes às de muitos que, no mundo inteiro, dificilmente acreditam que Trump será mesmo presidente. Mas a verdade é que foi isso mesmo que ficou hoje decidido.
As surpresas em eleições são cada vez maiores e se as sondagens deixam de conseguir fazer previsões acertadas devem-no muito à aceleração que se vive, incluindo a da mudança de opinião, o que faz com que, factores ou casos singulares, muitos deles manipulados por instituições e órgãos de comunicação social, façam a diferença de um dia para o outro. No caso destas eleições não foi só isso que aconteceu. Ao longo do dia muitos jornalistas e figuras públicas, a começar pelos que mais apoiavam Hillary Clinton, fizeram um mea culpa por não terem conseguido passar a mensagem e por terem subestimado Trump, assumindo que a vitória democrata seria incontestável. Mas afinal foi Trump quem viu a sua estratégia de non sense político levar a melhor. Foi ele que percebeu que os jornalistas, os actores, os cantores, os artistas e intelectuais no geral, são só uma pequena parte dos eleitores. E, na verdade, fazendo uma analogia com a televisão, por muito que se apresentem programas com elevado interesse e que muitos se pronunciem sobre o seu valor, as audiências serão sempre mais favoráveis aos programas inconsequentes e absolutamente desprovidos de aspectos positivos que apelam ao mais primário dos telespectadores. Pode parecer uma visão elitista mas os resultados das eleições, por grupos de votantes, aproxima as características de cada um, no que, por exemplo, ao nível de escolaridade diz respeito; de um ou outro candidato. Já para não falar na abstenção que prejudica, muitas vezes, o candidato que se pensa ter, à partida, a eleição garantida.
Foi isto, por alto, que disse à minha filha. Mas as explicações não serviram de muito! E o que é facto é que as brincadeiras dos últimos meses à volta de Donald Trump, hoje, não pareciam ter mais piada. Depois de Obama os americanos escolheram Trump. Pode ser que daqui a algum tempo estejamos a analisar a actuação do futuro presidente e se chegue à conclusão que as nossas perspectivas eram demasiado pessimistas. Mas hoje, perante esta realidade, só mesmo as lágrimas fazem sentido.
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