terça-feira, 2 de junho de 2015

Um registo de há 40 anos

A data era 2 de Junho de 1975. Ali estava eu, de dedo na boca, na fotografia da primeira página de um jornal diário de grande tiragem. No dia anterior, ainda Primavera, mas já perto daquele Verão que haveria de ficar conhecido como quente, a festa tinha acontecido no Parque de Jogos 1.º de Maio. Os meus pais, sempre avessos a grandes ajuntamentos, não sei bem porquê, tinham decidido que me levariam até lá para comemorar o dia mundial da criança. Nunca eu tinha estado num sítio assim, com tanta gente e com tanta animação. Tinha um vestido branco com joaninhas vermelhas e uma fita na cabeça. As outras crianças que por ali andavam misturavam-se com os muitos pais, adultos que aproveitavam mais uma ocasião para sair à rua e festejar um tempo novo a que não sabiam ainda o que chamar. Na fila de miúdos que estava à frente não deixava de estar também um militar que impunha alguma ordem mesmo que sem grande convicção. Como se só houvesse aquela canção, a voz de Ermelinda Duarte e a sua gaivota que voava, voava, lembrava-nos que éramos finalmente livres. Livres para voar, para crescer, para dizer. Eu não sabia bem o que queria dizer liberdade mas não havia música melhor para aquele dia. O título da notícia era "Dia mundial da criança na força da liberdade".

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