Ao procurar o trailer do filme, li alguns dos comentários que anónimos foram deixando. Mesmo não compreendendo os que utilizam o alfabeto cirílico podemos perceber que muitos russos não se revêem neste filme. Isso parece-me absolutamente normal. Esta é uma história particular. Mas o facto de se passar na Rússia actual, o retrato das relações de poder com a maioria dos indivíduos a serem completamente esmagados face a quem o detém; as referências a um passado não tão distante assim; a imagem de uma sociedade dominada pelos poderosos e pela Igreja que os protege, com uma justiça arbitrária; criou uma discussão à volta do filme, acentuada pelo facto de a sua visibilidade nos países ocidentais (com os quais as relações já foram melhores) ter sido bastante grande (candidato à Palma de Ouro em Cannes, escolhido como melhor filme estrangeiro nos Globos de Ouro e candidato ao Óscar de melhor filme estrangeiro). Responsáveis no país criticaram a falta de heróis positivos. Mas como se poderia ser positivo se o que sobressai na vida das principais personagens é a impotência face a uma realidade demasiado marcante e inóspita? E não é só a paisagem do Norte do país, junto ao mar de Barents, que reflecte a dureza daquelas vidas. Elas podem não ser reais. Mas não podemos deixar de pensar que se fossem reais elas só poderiam ser ainda mais duras. A imagem do filme que mais nos faz lembrar um Leviatã é não o esqueleto de um animal que deu à costa e perto do qual Roma se senta, mas o cortejo de carros de topo de gama que se afasta do edifício da igreja ortodoxa.
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