A maior parte desta notícia relativa à inauguração do parque de estacionamento subterrâneo na Praça D. Luís I, em Lisboa, dá conta da intervenção arqueológica e dos importantes vestígios que foram encontrados durante a sua construção. Felizmente, neste caso (tal não aconteceu noutros), foi possível retirar grande parte dos achados, estudá-los e até tornar visíveis alguns deles para quem venha a utilizar o espaço. É este o principal destaque da notícia.
Não deixa de ser significativo, no entanto, que o responsável da empresa que irá ter a seu cargo a gestão do parque, fale em "algumas vicissitudes, decorrentes dos achados arqueológicos"; e que Manuel Salgado, Vereador da Câmara Municipal, tenha identificado os trabalhos arqueológicos como uma das "dificuldades desta obra".
É claro que se não tivesse havido essa intervenção por parte dos arqueólogos talvez determinadas fases da obra tivessem avançado com mais rapidez. Mas não faz qualquer sentido continuar a estabelecer uma ligação entre os atrasos nas obras e os problemas que essa situação acarreta para as populações; e o trabalho necessário e fundamental para o conhecimento do património que, mesmo não estando à superfície, é de todos nós. Mesmo que a lei não obrigasse a tal (e obriga) esse trabalho deveria ser considerado como uma verdadeira oportunidade e não como uma adversidade.
Por isso me parece que as entidades que têm responsabilidades na transformação da cidade têm também obrigação de, até na linguagem utilizada, não parecerem que estão a ser apenas condescendentes perante uma situação que, se pudessem, evitariam.
A defesa do património não pode ser algo a que muitos se referem como um chavão teórico que depois, na prática, é identificada como um obstáculo.
Certamente, neste caso concreto, até a Empark ganhará pois, depois de ler a notícia, há-de haver quem irá deixar o carro neste parque só para ver expostos os materiais que a arqueologia permitiu trazer até nós.
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