quinta-feira, 27 de junho de 2013

À entrada do metro

À excepção das primeiras horas da manhã, aquele é sempre o seu lugar. É certo que dificulta a passagem quando, vindos do lado direito da rua, queremos aceder às escadas de entrada no metro. Mas já se estranha a sua ausência se ele ali não está. A sua cegueira não lhe permite ver as caras de repugnância com que muitos, que por ele passam, reagem à sua presença. Numa das mãos está sempre um pequeno rádio a pilhas. Esse pequeno aparelho parece agarrá-lo à vida com a mesma força com que ele o agarra.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Adrian Mole ainda na adolescência?

Há uns tempos atrás, lembrando-me da personagem Adrian Mole, perguntei numa livraria se tinham algum dos seus diários. Pensei eu que seria uma leitura divertida para as férias das minhas filhas adolescentes. Disseram-me, na altura, que só tinham os últimos livros em que Adrian é já adulto. Pois hoje encontrei um dos tais livros em reedição. Não gostei da capa. Mesmo assim, peguei nele com intenção de o comprar. Mas, entretanto, li as linhas que estavam na contracapa. As referências à música punk e às calças de bombazine fizeram-me pensar duas vezes. Será que os tormentos de um rapaz a crescer na Inglaterra dos anos 80 dirá alguma coisa aos miúdos hoje em dia? Como leitura de uma época talvez. Quanto à identificação com a personagem ficará bem longe do que acontecia há 30 anos atrás. Da próxima vez pensarei melhor. Por hoje o livro ficou na livraria.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

A urgência (1)

Eu estava a acabar de pagar. Ele entrou na loja e dirigiu-se à empregada que estava ainda a entregar-me o troco e perguntou: 
- Tem daqueles anéis tipo aliança?
A urgência presente no seu tom de voz levou a rapariga a responder de imediato. Que naquela loja só havia artigos de fantasia... Mesmo assim ele quis ver e logo a seguiu, com um passo apressado, até ao expositor.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Há trilogias assim

Em 1995 eu tinha 28 anos. A história de Celine e Jesse, que então conhecemos, correspondia a um sonho de adolescência que já não se justificava na altura. E, no entanto, o seu encontro teve em mim um efeito nostálgico acentuado. Anos mais tarde eles voltavam a encontrar-se e as suas conversas pareciam fazer tanto sentido...
Neste terceiro filme os diálogos continuam a ser de luxo e, na Grécia, sob o signo do "conhece-te a ti mesmo", os protagonistas, numa fase da vida em que, supostamente, deveria haver mais certezas, mostram-nos que é a dúvida que ganha terreno.  

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Uma crónica de rádio sobre a rádio

Um "acordo de viabilidade comercial" fez com que, no lugar de um programa de rádio que existia há 24 anos em Bragança, com ouvintes fiéis, se ouça agora música dos anos 80. A notícia, que ouvi na terça-feira à noite, dava destaque à falta percebida por esses ouvintes que sentem que algo lhes foi roubado. Sensibilizou-me o trabalho de proximidade que dava frutos e que agora foi interrompido.
Ora, esta manhã, a crónica de Fernando Alves foi exactamente sobre o assunto. E porque diz tanto e de uma forma tão bonita aqui fica.

Amália na Rua do Capelão


terça-feira, 4 de junho de 2013

Finalmente!

Depois de ter falhado as anteriores apresentações esta noite assisti, finalmente, a um espectáculo de Ute Lemper.
Sala cheia. No palco só a cantora e dois músicos, um ao piano, outro com o bandoneón. Não foi preciso mais para uma noite quente, cheia de uma voz que nos transporta para diferentes cenários de música para música.
Ute Lemper fez questão de mostrar solidariedade com Portugal e, por várias vezes, se referiu a Angela Merkel de forma muito pouco simpática. 
Residente nos Estados Unidos, da sua Alemanha natal falou-nos da distância que sente da Berlim que conheceu e das dificuldades em reconhecer uma cidade que eliminou, por completo, a memória da vida antes da queda do muro. Interessante, esse reconhecimento da falta que fazem elementos que nos recordam o passado e que, fazendo parte da história dos sítios que conhecemos, fazem parte de nós. 
Mas, voltando à música, para mim o ponto alto foi a interpretação de "Avec le temps" de Léo Ferré. Uma canção que é, já de si, magnífica e que, assim cantada, nos deixa sem fôlego. 
Um grande espectáculo! Perdoamos até o seu castelhano...


segunda-feira, 3 de junho de 2013

Uma das razões/poemas por que gosto de Jorge Reis-Sá

A Vida Inteira

A vida inteira esperei por ti.

Mesmo que ainda se não tenha passado
a vida inteira.

in , Jorge Reis-Sá, Instituto de Antropologia , {glaciar}, 2013, pág. 44