sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

À rapariga que passa por mim quase todos os dias

Serpenteia por entre os automóveis de uma forma que só parece acessível a um artista de circo. Quer chova, quer o calor aperte. Não sei para onde vai mas sei que chega sempre primeiro. Gosto especialmente da forma como aperta o cabelo com um elástico enquanto pedala a grande velocidade.


Elogio Barroco da Bicicleta

Redescubro, contigo, o pedalar eufórico
pelo caminho que a seu tempo se desdobra,
reolhando os beirais - eu que era um teórico
do ar livre - e revendo o passarame à obra.

Avivento, contigo, o coração, já lânguido
das quatro soníferas redondas almofadas
sobre as quais me estangui e bocejei, num trânsito
de corpos em corrida, mas de almas paradas.

Ó ágil e frágil bicicleta andarilha,
ó tubular engonço, ó vaca e andorinha,
ó menina travessa da escola fugida,
ó possuída brincadeira, ó querida filha,

dá-me as asas - trrrim! trrrim! - pra que eu possa traçar
no quotidiano asfalto um oito exemplar!

Alexandre O´Neill
in Poesias Completas, Assírio & Alvim

2 comentários:

  1. Gosto muito de poesia.
    Venho hoje especialmente desejar um Bom
    2013 e que nos possamos visitar mais.
    Bj.
    Irene Alves

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    1. Obrigada, Irene. Um bom ano também para si. E que a poesia esteja sempre presente! Quanto às visitas, não é por não querer mas o tempo tem sido demasiado curto...

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