Nestes últimos dias, amigos, colegas e conhecidos têm repetido, à exaustão a pergunta "então, foste à manifestação"? Perante a resposta muitos me olham de uma forma estranha. Pois é! Não, não fui à manifestação. E até podia. Um preciosismo de linguagem, dirão! Mas eu não poderia ir a uma manifestação que tinha como lema “Que se lixe a Troika! Queremos as nossas vidas!".
Sei que todos nós (uns mais que outros, é certo) temos razões para nos manifestarmos. Mesmo não percebendo grande coisa de economia, não se podem ignorar todas as críticas e os argumentos apresentados por quem assegura que as recentes medidas apresentadas por Passos Coelho não terão os efeitos desejados, bem pelo contrário. Não votei em nenhum dos partidos que compõem este governo. Analisando a história recente do país e por razões ideológicas. Mas tenho quase a certeza que, se estivesse no poder aquele em que eu votei, a manifestação teria acontecido na mesma. Aliás, é ver em todos os debates ou intervenções. Todos sabem que a situação é muito negativa mas ninguém apresenta medidas razoáveis ou exequíveis. Na actual situação todos os partidos que já estiveram no poder têm culpas. Os que nunca lá estiveram nunca puderam testar as suas teorias e este momento não será a melhor altura para o fazer.
Quanto à manifestação, gostei de ver que, quando querem, os portugueses se mobilizam e não tenho qualquer atitude paternalista em relação a isso. Manifestar que estamos descontentes ou, em certas situações, desesperados, é, não só um direito, mas até um dever. Quem está no poder, muitas vezes, não conhece suficientemente bem a realidade no sentido em que, não a sentindo na pele, é algo longínquo, e nada como uma imagem a substituir 1000 palavras.
Quem me dera a mim acreditar nas palavras de ordem que se ouviram. Mas, por mais que se queira, as nossas vidas há muito que deixaram de ser nossas. Em termos económicos somos absolutamente dependentes e para deixarmos de o ser muitas coisas teriam que mudar e a mudança é, como todos sabemos, de uma complexidade enorme.
Voltando às palavras: "que se lixe a troika" é algo que me parece inconsequente. Não acho que exista especial entusiasmo da sua parte quanto à estabilização económica de um país que sempre gastou muito e produziu pouco. Mas a alternativa qual é? Nós sozinhos a resolvermos o mega problema em que estamos metidos? Bem, se calhar, mas para isso seria necessário uns governantes geniais que não temos nem sei se existem.
Dito isto, manifesto-me aqui contra as propostas de aumento da TSU; contra um governo que, pelos vistos, não estudou bem a lição antes de fazer a proposta; contra todos os que têm culpas no cartório; contra mim porque sou mais uma que não soube gerir a minha vida, por forma a não ter que me preocupar tanto com estas questões e contra os meus preciosismos de linguagem.
Penso que a baixa da TSU patronal compensada pela elevação da TSU laboral tem o mérito de tornar equitativa a austeridade limitada até agora ao funcionalismo público e pensionistas. Também, mantém a disciplina de consumo o que permite economizar recursos para equilibrar a balança de pagamentos com o estrangeiro e pressiona a baixa de juros a pagar aos credores externos.
ResponderEliminarAgora o que se me afigura insultuoso e intolerável é a medida ser anunciada sem, simultaneamente, nada se legislar quanto à tributação das transações de títulos em bolsa — ou seja, finalmente inovarmos com a aprovação da polémica taxa Tobin, e espantarmos o mundo tanto quanto o surpreendermos com a reviravolta inédita capital vs trabalho da TSU; também, intolerável não declararmos unilateralmente a suspensão de pagamentos nos contratos-parcerias público-privadas.
Realmente é inaceitável que o estado tenha contemplações em romper de imediato todos os acordos firmados nestes empreendimentos, porque quem não consegue pagar o que deve não pode prejudicar uns credores (pensionistas) e favorecer outros (construtores civis): todos devem ser atingidos por igual.
Para além de ser inadmissível continuarem por prender e julgar os embusteiros das escandalosas falências fraudulentas do grupo SLN e outros, a par da inacção da polícia, dos tribunais e do governo que compactua com o compadrio dos responsáveis das negociaçõee ruinosas das parcerias público-privadas, hoje ao serviço dos bancos e dos beneficiários dessas parcerias.
Achei interessante uma sugestão do PS, do Francisco Assis, se não erro, de passar a concessão das estradas de trinta para sessenta anos, cessando todo e qualquer desembolso do Estado, forçando os consórcios construtores a equilibrarem as contas somente coma as portagens!
No geral, aliás, a projectada diminuição de salários no todo da economia só pode viabilizar-se com a diminuição do nível geral de preços quer da electricidade e dos transportes — para quando a gasolina low-cost em múltiplos postos de abastecimento? — quer dos bens alimentares, quer do custo de vida em geral.
Apesar de não estar tão por dentro do assunto, parece-me que tens razão em todas as questões que referes. Os esforços fazem sentido quando se percebe que todos os partilham e que não há "intocáveis".
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