quinta-feira, 31 de março de 2011
Estação de metro da Baixa-Chiado
Um rio corria nas fotografias expostas nas paredes (era a exposição "Douro natural"). No pavimento outro rio, formado pela água que caía dos tectos daquele corredor.
quarta-feira, 30 de março de 2011
Exercício de imaginação
Na montra da sex shop um manequim masculino exibia uns "boxers" brancos, de tecido transparente. Um homem, já de idade avançada, parado frente à loja, muito atento, parecia tentar imaginar quais as ocasiões em que aquela peça poderia ser vestida. Entretanto sorriu.
domingo, 27 de março de 2011
Desenhar o espaço onde se vive
Dei-me agora conta que não ouvi hoje o programa da TSF, “Encontros com o Património” que hoje era sobre "O Património Moderno e o arquitecto Nuno Teotónio Pereira". Tinha intenção de ouvir pois, mesmo não tendo os conhecimentos necessários para apreciar, na plenitude, as obras arquitectónicas que desenhou, há muito tempo que o admiro, quer como arquitecto, quer como cidadão que sempre defendeu os seus ideais de liberdade.
Quis o acaso que, no ano em que comecei a trabalhar, tenha estado num grupo de trabalho que acompanhou o pré e o pós realojamento de famílias, até ali residentes em bairros degradados, num conjunto habitacional projectado pelos arquitectos Nuno Teotónio Pereira e Pedro Botelho. Para além das reuniões com os técnicos, para as quais estavam sempre disponíveis, recordo sobretudo o prazer com que, em assembleias muito participadas, com centenas de pessoas, nos barracões do refeitório da obra, sobretudo o primeiro, explicava aos futuros moradores porque tinha desenhado o bairro e as casas assim e não de outra maneira, porque tinha escolhido aqueles materiais e não outros. Mas era sobretudo a atenção com que ouvia os futuros utilizadores daquelas casas, dos espaços que tinha criado, que me fascinava. Aquelas pessoas que lhe colocavam as questões mais óbvias ou as mais estranhas mereciam-lhe sempre uma reflexão e uma resposta clara.
Provavelmente os que participavam nessas reuniões não se apercebiam do privilégio de ter alguém como o Arqto. Teotónio Pereira ali à mão, pronto a responder-lhes a todas as questões, com a humildade de quem só sabe mais algumas coisas sobre o assunto.
Foi a ele que ouvi uma frase que ainda hoje por vezes cito e que dizia, mais ou menos assim: o principal problema dos arquitectos são as pessoas. Significa ela que ao projectarem determinado edifício, mesmo que se trate de uma encomenda para alguém em particular, a obra pode ficar perfeita, mas deixará de o ser quando for habitada, quando o uso deturpar a harmonia inicial do conjunto, introduzindo imperfeições mais ou menos relevantes. E no entanto é a vivência de um espaço que lhe confere o valor maior, mais significativo, que lhe atribui a sua alma. Nuno Teotónio Pereira sabe disso. Por isso o respeito. Por isso o devemos respeitar.
sábado, 26 de março de 2011
O sol, o vento, a água...
Andava eu a pôr algumas leituras em dia quando me deparei com um texto no diário de David Byrne que me deixou com um sorriso (de satisfação, sim.) É certo que os dados citados no artigo do NYTimes, referido no texto, nos parecem demasiado bons para serem verdade. Mas não deixa de ser uma variante, nestes dias, um natural do Reino Unido salientar um aspecto positivo associado ao nosso país.
Está a chegar a Páscoa...
e na Páscoa comem-se muitos chocolates.
Em Junho, pelos Santos Populares, parece que vão lançar a Sagres sardinha assada!
sexta-feira, 25 de março de 2011
O que fazer perante argumentos destes?
- Hoje é o casaco?, perguntei eu, depois de ontem M. ter ido ao cesto da roupa por passar a ferro e ter vestido umas calças que era suposto terem sido passadas antes.
- Oh mãe, tu sabes que eu sou ecológica!
quinta-feira, 24 de março de 2011
A dias
Todos os dias me cruzo com ela. De manhã, na estação de comboios de onde sai e onde eu entro; à tarde, mais raramente, ambas em sentido contrário. O seu ar é sempre o mesmo. Sofrido. Transporta o corpo, enorme, para onde o seu trabalho é esperado, longe da sua casa, onde às horas que chega já não terá tempo para fazer o mesmo que fez o dia inteiro na casa de outros.
"Eeeeuuuu é que sou o Presidente deste país"
E assim se pratica a magistratura activa:
"Bora lá despachar antes que ele chegue a S. Bento!.."
ou
" a minha página oficial é mais rápida que a tua comunicação ao país"
"Bora lá despachar antes que ele chegue a S. Bento!.."
ou
" a minha página oficial é mais rápida que a tua comunicação ao país"
terça-feira, 22 de março de 2011
Num dia que já não é o da poesia...
um poema em forma de filme...
domingo, 20 de março de 2011
"Lua cheia, a tudo clareia."
Ser convencida é uma característica que eu não tenho. De todo. Mas neste sábado não pude deixar de pensar que um bocadinho destes 30 % a mais de brilho foi para mim.
quinta-feira, 17 de março de 2011
Um crescendo de tristeza
Começa na Primavera, este ano. Um ano a mais, diferente do anterior e portanto igual, nessa diferença, aos precedentes. Na casa de Tom e Gerri a harmonia prolonga-se ao longo das quatro estações. Mesmo quando, no Inverno, a morte se manifesta. É nessa casa que os seus amigos e familiares, buscam um porto de abrigo, esperando ansiosamente um toque daquela felicidade que parece ser colhida juntamente com os produtos da horta.
Mas aquilo que vão aprender ao longo dessas quatro estações é que não são os outros, mesmo que felizes, que nos salvam da nossa condição de velhos, gordos, sós. Isso só nós próprios conseguiremos fazer. Porém, que pena que isso seja tão difícil. E esta é uma das razões porque este filme é triste. Porque sabemos da nossa incapacidade, da nossa impotência, ou pelo menos das nossas dificuldades para sermos diferentes. Mesmo que num outro ano.
(Aplauso, entre outras razões, para a interpretação de Lesley Manville, como Mary).
Boa companhia
A plataforma da estação de metro estava cheia. A rapariga do cartaz exibia um conjunto de lingerie. Os quadradinhos do tecido, azuis claros, davam-lhe um ar ingénuo mas, ao mesmo tempo, o olhar conferia-lhe um outro ar, mais matreiro. Ao seu lado, encostado ao mupi, o rapaz, certamente orgulhoso de tal companhia, sorria com satisfação cada vez que alguém se aproximava.
terça-feira, 15 de março de 2011
A alegoria de um país doente
Os médicos
Certo médico chamado,
D'alcunha, o Tanto-melhor,
Foi visitar um doente,
Do qual o Tanto-pior
Era médico assistente.
O último, sempre funesto,
Que o doente morreria
Altamente sustentava,
E o Tanto-melhor dizia
Que o pobre enfêrmo escapava.
Houve sôbre o curativo
Mui grande contestação;
Um aplicava calmantes,
O outro armava uma questão
Em favor dos irritantes.
No fim de tantos debates
O enfêrmo a vida perdeu,
E o Tanto-pior clamou:
«Vejam qual de nós venceu!
Se o meu cálculo falhou.»
Tornou-lhe o Tanto-melhor,
Mostrando um vivo pezar
«Pois eu, sempre afirmarei
Que morreu por não tomar
Os remédios que indiquei.»
Enquanto a mim, se os tomasse
Morrer havia igualmente;
Mas é desgraça maior
Cair um pobre doente
Nas mãos dum Tanto-pior.
Curvo Semedo
in La Fontaine Fábulas (escolhidas) edição organizada por Matias Lima, Livraria Chardron de Lello & Irmão, Porto, p. 105
Certo médico chamado,
D'alcunha, o Tanto-melhor,
Foi visitar um doente,
Do qual o Tanto-pior
Era médico assistente.
O último, sempre funesto,
Que o doente morreria
Altamente sustentava,
E o Tanto-melhor dizia
Que o pobre enfêrmo escapava.
Houve sôbre o curativo
Mui grande contestação;
Um aplicava calmantes,
O outro armava uma questão
Em favor dos irritantes.
No fim de tantos debates
O enfêrmo a vida perdeu,
E o Tanto-pior clamou:
«Vejam qual de nós venceu!
Se o meu cálculo falhou.»
Tornou-lhe o Tanto-melhor,
Mostrando um vivo pezar
«Pois eu, sempre afirmarei
Que morreu por não tomar
Os remédios que indiquei.»
Enquanto a mim, se os tomasse
Morrer havia igualmente;
Mas é desgraça maior
Cair um pobre doente
Nas mãos dum Tanto-pior.
Curvo Semedo
in La Fontaine Fábulas (escolhidas) edição organizada por Matias Lima, Livraria Chardron de Lello & Irmão, Porto, p. 105
segunda-feira, 14 de março de 2011
Viver... em poucos versos
Com unhas e dentes
Estar vivo
é abrir uma gaveta
na cozinha,
tirar uma faca de cabo preto,
descascar uma laranja.
Viver é outra coisa:
deixas a gaveta fechada
e arrancas tudo
com unhas e dentes,
o sabor amargo da casca
de tão doce,
não o esqueces.
Luís Filipe Parrado, in criatura n.º 5, Outubro 2010.
E foi aqui, graças ao Manuel, que li este poema pela primeira vez.
Estar vivo
é abrir uma gaveta
na cozinha,
tirar uma faca de cabo preto,
descascar uma laranja.
Viver é outra coisa:
deixas a gaveta fechada
e arrancas tudo
com unhas e dentes,
o sabor amargo da casca
de tão doce,
não o esqueces.
Luís Filipe Parrado, in criatura n.º 5, Outubro 2010.
E foi aqui, graças ao Manuel, que li este poema pela primeira vez.
Nesta noite com tanta chuva...
apetece mesmo ouvir...
sábado, 12 de março de 2011
Censos
Talvez seja por questões ligadas à minha profissão e à necessidade de recorrer a estatísticas tenho muita dificuldade em entender as pessoas que não compreendem a importância dos censos. Mais ainda quando essa atitude vem de grupos mais jovens. Os argumentos vão desde a preocupação com as verbas despendidas numa operação deste tipo, numa altura em que todo o dinheiro que se poupe nas despesas do Estado é pouco; até aos mais comezinhos da chatice que é interromper o jantar para ir à porta atender um tipo que quer saber coisas sobre as nossas vidas.
A realidade é que a realização de censos é uma obrigação de qualquer governo e permite obter dados vitais para fundamentar as opções a tomar em todas as áreas da governação e a todos os níveis, desde o nacional até ao local, dando bases de trabalho que serão úteis quer às entidades públicas quer aos próprios agentes económicos, a escalas macro ou micro. A área do planeamento não seria a mesma se os censos não existissem, apesar da relevância de muitas outras estatísticas que periodicamente são elaboradas no INE. A comparação com dados de anteriores recenseamentos permite ainda analisar as transformações da sociedade portuguesa em termos demográficos e socioeconómicos que tão importante é para se estudarem tendências e conhecerem evoluções.
Claro que se poderá sempre dizer que as falhas inviabilizam que se faça um retrato rigoroso da situação (todos nós conhecemos famílias que não foram contactadas em anteriores recenseamentos) e que, com as mudanças rápidas a que assistimos, a rapidez com que os dados se desactualizam é cada vez maior.
É verdade que haverá imperfeições e que, quer na elaboração dos questionários, na recolha dos dados, na sua análise e na sua disponibilização posterior, mais poderia ser feito. Mas tais imperfeições não poderão pôr em causa o que é inegavelmente um momento chave da nossa cidadania.
sexta-feira, 11 de março de 2011
quarta-feira, 9 de março de 2011
Este dólmen é nosso
Fornos de Algodres é um pequeno concelho na Beira Interior que apresenta os problemas comuns aos concelhos situados naquela região. É numa das suas freguesias que se encontra o Dólmen de Cortiçô, cuja construção (de acordo com o que consta na Wikipédia) remontará a 2900 - 2640 a.C.. O esforço feito, pelas entidades locais, para tornar perceptível a todos as características originais deste monumento só se pode elogiar.
Recentemente, porém, alguém cometeu um atentado descrito aqui.
A Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro, estabelece as bases da política e do regime de protecção e valorização do património cultural sendo o capítulo 2 dedicado ao Património Arqueológico. Nela se prevê que "aos crimes praticados contra bens culturais aplicam-se as disposições previstas no Código Penal" (Artigo 100.º), e ainda, no Artigo 103.º, "quem, por inobservância de disposições legais ou regulamentares ou providências limitativas decretadas em conformidade com a presente lei, destruir vestígios, bens ou outros indícios arqueológicos é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa até 360 dias".
Pode parecer pouco quando vemos, nas fotografias, o estado em que ficou o monumento. A ignorância acerca do seu valor patrimonial, por parte de quem assim o deixou, é provável. Mas sem dúvida que deveria ser levada a cabo uma investigação profunda para se tentar chegar aos autores de tal acto que nos deve tocar a todos, donos que somos daquele bocado do nosso passado e, portanto, de nós próprios.
terça-feira, 8 de março de 2011
Carnaval ao som do gypsy punk
Depois de a greve geral em Novembro ter obrigado a um adiamento, os Gogol Bordello estiveram hoje em Lisboa. A véspera de Carnaval foi uma data bem escolhida.
sexta-feira, 4 de março de 2011
Uma das razões/poemas porque gosto de Jacques Prévert
J’en ai vu plusieurs…
J’en ai vu un qui s’était assis sur le chapeau d’un autre
il était pâle
il tremblait
il attendait quelque chose… n’importe quoi…
la guerre… la fin du monde…
il lui était absolument impossible de faire un geste ou de parler
et l’autre
l’autre qui cherchait «son» chapeau était plus pâle encore
et lui aussi tremblait
et se répétait sans cesse
mon chapeau… mon chapeau…
et il avait envie de pleurer.
J’en ai vu un qui lisait les journaux
j’en ai vu un qui saluait le drapeau
j’en ai vu un qui était habillé de noir
il avait une montre
une chaîne de montre
un porte monnaie
la légion d’honneur
et un pince-nez.
J’en ai vu un qui tirait son enfant par la main et qui criait…
j’en ai vu un avec un chien
j’en ai vu un avec une canne à épée
j’en ai vu un qui pleurait
j’en ai vu un qui entrait dans une église
j’en ai vu un autre qui en sortait…
in Jacques Prévert, Paroles, folio, 2010, p. 39
J’en ai vu un qui s’était assis sur le chapeau d’un autre
il était pâle
il tremblait
il attendait quelque chose… n’importe quoi…
la guerre… la fin du monde…
il lui était absolument impossible de faire un geste ou de parler
et l’autre
l’autre qui cherchait «son» chapeau était plus pâle encore
et lui aussi tremblait
et se répétait sans cesse
mon chapeau… mon chapeau…
et il avait envie de pleurer.
J’en ai vu un qui lisait les journaux
j’en ai vu un qui saluait le drapeau
j’en ai vu un qui était habillé de noir
il avait une montre
une chaîne de montre
un porte monnaie
la légion d’honneur
et un pince-nez.
J’en ai vu un qui tirait son enfant par la main et qui criait…
j’en ai vu un avec un chien
j’en ai vu un avec une canne à épée
j’en ai vu un qui pleurait
j’en ai vu un qui entrait dans une église
j’en ai vu un autre qui en sortait…
in Jacques Prévert, Paroles, folio, 2010, p. 39
quarta-feira, 2 de março de 2011
Lost Somewhere
Deste sim, gostei muito.
E porque a Ana Paula o diz tão bem convido-vos a ler o que ela escreveu. Eu limito-me a concordar em absoluto.
terça-feira, 1 de março de 2011
A linguagem técnica é para utilizar. Sempre.
Obrigada, António, por me relembrares.
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