domingo, 26 de fevereiro de 2017

Amadeo


Ser moderno será talvez isto: 99 anos depois da sua morte criar em quem olha as suas obras uma enorme emoção. Foi o que senti hoje ao visitar a exposição que pretende revisitar as exposições individuais que aconteceram no Porto e em Lisboa em 1916.
Percebemos que Amadeo estava consciente, na altura, da dificuldade de a sua pintura ser compreendida. De facto, muito se falou sobre ela e nem sempre bem. Mas isso até convinha a quem queria avançar e ir além das convenções e gostos da época.
De diversos suportes e técnicas, de temas variados, de muitas cores e texturas se faz a obra deste artista. Vê-la é sempre um prazer. 
Destaco este auto-retrato do artista com paisagem. É quase hipnotizante na sua capacidade de nos mostrar, simultaneamente, a sua pequenez e a sua grandeza. O seu apego à terra e ao seu país, tão presente nas temáticas que aborda, e a sua singularidade dentro dessa paisagem. 


Apesar da dimensão reduzida de algumas salas onde está a exposição, valeu bem a pena esperar tanto tempo numa fila. Este domingo é o último dia para a ver. Pouco mais de um mês é manifestamente tempo insuficiente para tão grande artista.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

"Um que não ia em futebóis"

Passam hoje 30 anos sobre a morte de José Afonso. Ele que nos acompanhou durante tanto tempo e que continua a acompanhar-nos, apesar de, em termos musicais, os músicos "herdeiros" daquele espírito de luta e justiça terem uma produção cada vez menor. O tempo passa e os ideais transformam-se noutras perspectivas e noutros interesses. Os que se emocionam com as suas canções, por terem vivido as realidades de que falava, são cada vez menos. Não temos que nos martirizar com isso. Mas a verdade é que se sente cada vez mais a falta de quem não vai em futebóis.

"Um que não vai em futebóis

Na Coimbra dos anos 50, provinciana e falaz, já havia todos os candidatos possíveis às ortodoxias que depois nos estoquearam o lombo. Aquilo era o centro geográfico do parece mal (...). Mas no pior pano cai a boa nódoa desses anos 50 a tenderem para 60, aos gritos chamava-se José Afonso, no liceu «Furcopês» inventor de música. Vinha de Aveiro, vinha de uma serra na eira, vinha de África, de muitos sítios e de todos ao mesmo tempo, pecha de que nunca se livrou.
Abreviámos-lhe o nome para Zeca, ouvíamo-lo em silêncio e, às tantas, perdêmo-lo de vista: andava pela província a ensinar meninos, a ganhar uns tustes com que aguentar a família precoce. Os seus regressos, por vezes numa estrada à espera de um autocarro com o Orfeon ou a Tuna dentro, eram sinal de festa. Falava pouco, mas diferente, por falar nisso, encostou muita gente à parede. Outra sina sua.
O país de fora-parte conheceu-o só nos idos de 60, quando as universidades bateram com o pé no chão. Já ele, creio bem, partira para novos casos, novas causas, descobrindo que o Portugal que sobrava das escolas superiores era quase todo, e algum passava mal. Se no 25 de Abril os capitães escolheram a «Grândola» para senha do movimento foi uma naturalidade: quem, de entre os anjos de pedra lioz, poderia responder-lhes?
Ser heterodoxo, minoria de um, avesso das verdades oficiais, custa como o diabo. José Afonso está aí que não me desmente. Honra lhe seja feita, ele é da raça dos que não vão em futebóis mansos." 

Texto de Fernando Assis Pacheco no catálogo da compilação de temas de José Afonso lançada em 1983 pela Editora Orfeu.

Reabertura sem filas. É o que se prevê.

A sua inauguração aconteceu na data prevista. No primeiro dia a vontade de o visitar levou meio mundo até Belém. Uma ponte pedonal teve que ser encerrada por excesso de utilização em tão pouco tempo. Milhares de pessoas nesse dia e nos seguintes foram conhecer o edifício e a sua envolvente próxima. E não acredito que tal tenha apenas a ver com o facto de não se pagar entrada.
Daí para cá as obras no exterior não pararam. No interior recomeçarão agora. Depois reabre. Desta vez já não será de graça. Mas esta situação até tem graça. Ou pelo menos inspira-a...

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Resumo de Perdição

O teste que incide sobre a obra aproxima-se. Em cima da mesa está um resumo. No que se refere às principais personagens leio:

Simão Botelho (ama Teresa)
Teresa de Albuquerque (ama Simão)
Mariana (ama Simão)

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Talvez não fosse má ideia uma errata

Quem trabalha em rádio ou em televisão e faz directos está sujeito a algumas "gaffes". Isso é certo. E actualmente, com a possibilidade de se registar e guardar o que se ouve ou vê, as provas estão à mão de semear. Mas se algumas há que não se podem considerar muito graves (por exemplo, hoje de manhã, não sei em que canal, dizia o jornalista, a propósito da chamada de atenção da Google para Carmen Miranda, que passavam 108 anos sobre a sua morte...); outras há que até arrepiam. Ora vejam:



A boa notícia é que num dos exemplos não disse asneiras. Está-me cá a parecer que no próximo livro deste senhor o protagonista da história andará desesperadamente à procura de uma gramática... 

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

"Nas nossas ruas, ao anoitecer"

A cama está sempre impecavelmente feita. Agora, com o frio, o saco cama não chega e a manta aos quadrados cobre-o, tornando a noite mais suportável. 
O cão, depois de ter ido dar uma volta, está enroscado junto à cabeceira. Está bem tapado. Também ele tem uma manta às riscas. 
Estamos em pleno Marquês de Pombal e a maior parte das pessoas regressa às suas casas. O homem deita-se cedo. Parece indiferente ao bulício da hora de ponta na cidade. 

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Este é “o nosso reino”

Aqui se saúda o lapso dos responsáveis pelo Plano Nacional de Leitura.
É que o facto de se falar tanto, por estes dias, do livro e do autor, contribuirá certamente para aumentar a curiosidade com um e outro e, quem sabe, Valter Hugo Mãe ganhará novos leitores, quer entre alunos de várias idades, quer entre os pais de alunos de várias idades, incluindo aqueles que levantaram o que consideram ser um problema.
Leiam o livro! E se, em algumas páginas, o pudor for mais forte leiam-no às escondidas. Não é nada que não tenha sido feito quando em vez de “escola secundária” aquele local ainda se chamava "liceu".
A literatura portuguesa passada, presente e futura agradece.