terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Não é má ficção. É uma muito triste realidade.

Muitas séries e filmes têm sido criados nos EUA à volta da figura do presidente. Alguns argumentos são tendencialmente mais fiéis à realidade. Noutros a ficção é rainha. Uns mais verosímeis, outros menos. 
Mas se um argumentista se atrevesse a imaginar um presidente que tomasse as atitudes que Trump tem tomado duvido que alguém considerasse esse argumento, sequer, digno de uma leitura atenta. Mesmo que considerado para um "série B" ou "C" ou outro, iria imediatamente para o lixo por a personagem principal não ter um mínimo de adequação à figura de um presidente. E afinal...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Uma referência sentida

... a alguém que conseguia provocar gargalhadas, quanto mais não fosse um sorriso e que, durante alguns anos, nos fez companhia enquanto acompanhávamos as peripécias passadas em Nouvion, no Café do René. Grandes personagens representadas por grandes actores, entre eles Gorden Kaye que partiu esta semana. 
Quem guardará agora o quadro da "fallen Madonna with the big boobies de Van Klomp"?

                                                                         Imagem aqui

Presidente?

De uma maneira bastante clara, e traduzindo uma expectativa, estou convencida que Donald Trump não vai ser presidente por muito tempo. Nem a maioria dos americanos se irá rever nas suas ideias e atitudes, nem os próprios republicanos aguentarão que alguém ligado ao seu partido destrua, de forma tão rápida, um país com a dimensão dos EUA. Mesmo sabendo que é preciso levá-lo a sério, tendo como base o que já disse e fez nestes últimos dias e primeiros do seu mandato, fica-se com a sensação de que tudo não passa de um reality show de quinta categoria, produzido por um canal seu, dirigido a um público nacional e internacional. Esperançada fico à espera de o ver olhar para uma câmara e dizer: - Não se preocupem. Era a brincar...
Até agora ainda não aconteceu. E os episódios começam a avolumar-se.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O dia a que não pensámos assistir

Se o sistema eleitoral americano não é o melhor é o que existe e é com ele que os americanos, a menos que o alterem, podem contar. Trump foi eleito e por isso deveria ser respeitado. No entanto, é sobretudo ao presidente que cabe demonstrar que é digno desse respeito. E a verdade é que, mesmo não tendo ainda tomado posse, as suas atitudes antes e depois das eleições enchem-nos de vergonha e de medo. O mundo já tem tantos problemas que ter este homem à frente de um país como os EUA é algo que certamente todos dispensaríamos. 
É por isso que hoje começa a contagem decrescente para o dia em que o possamos ver assim. Pelas costas....
Imagem retirada daqui.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Numa terra à beira-mar

Não, não gosto de dramalhões, como sugeriu uma amiga, quando lhe disse que tinha gostado muito do filme de Kenneth Lonergan, Manchester by the sea. O dramalhão exagera determinada situação da acção, tornando-a praticamente a única, levando-nos à exasperação. E não é isso que acontece neste filme. Esta é uma história dramática, sim, mas simples e bem contada. Os acontecimentos que marcam as personagens são realmente devastadores mas a acção não se centra neles mas nas respostas e nos comportamentos que não são capazes de controlar ou que conseguem demonstrar perante a adversidade. Ver um actor, como é o caso de Casey Affleck, conseguir mostrar-nos tanta dor daquela forma tão contida mas tão forte é algo que, na minha opinião, faz deste um filme intenso. A ver, portanto.

sábado, 14 de janeiro de 2017

Da modernidade

De Zygmunt Bauman li alguns textos embora, confesso, nunca tenha lido qualquer obra por inteiro. Por estes dias, após a sua morte, no dia 9, pensei em escrever aqui alguma coisa. Conhecendo as suas teses pessimistas sobretudo no que diz respeito à forma como a omnipresença das redes sociais transforma, para pior, a forma como nos relacionamos com o mundo, talvez não seja, afinal, boa ideia falar desse facto aqui.
Do único livro que tenho do autor retiro duas citações sobre a modernidade que nos obrigam a pensar: 
..."A modernidade é o que é - uma obsessiva marcha adiante -, não porque queira sempre mais, mas porque nunca consegue o bastante; não porque se torne mais ambiciosa ou aventureira, mas porque as suas aventuras são mais amargas e as suas ambições frustradas. A marcha deve seguir adiante porque qualquer ponto de chegada não passa de uma estação temporária"...
... "Estabelecer uma tarefa impossível não significa amar o futuro, mas desvalorizar o presente. Não ser o que deveria ser é o pecado original e irredimível do presente. O presente está sempre «a querer», o que o torna feio, abominável e insuportável. o presente é obsoleto. É obsoleto antes de existir. No momento em que aterra no presente, o ansiado futuro é envenenado pelos eflúvios tóxicos do passado perdido. O seu desfrute não dura mais do que um momento fugaz, depois do qual (e o depois começa no ponto de partida) a alegria adquire um toque necrofílico, a realização torna-se pecado e a imobilidade morte."...

in Zygmunt Bauman, Modernidade e Ambivalência, Lisboa, Relógio D'Água Editores, 2007, p. 22 e 23

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Sob o olhar de São Jerónimo

Foi uma decisão do momento. Pensei que não me bastaria ver na televisão as imagens das cerimónias e do cortejo rumo ao cemitério. Por isso fui até ao Mosteiro dos Jerónimos. Prestei a homenagem que o meu coração me pediu. Àquela hora da manhã não eram muitos os que estavam presentes. Conveniente para mim, que não tive que ficar numa fila, mas que resultou em alguma tristeza por ver a sala vazia. 
Já tudo se disse, nestes últimos dias, sobre o homem e sobre o político. As suas convicções, as suas contradições, os momentos bons e os maus. Como personagem histórica recente, com tão grande intervenção na vida do país, seria impossível que as decisões que tomou fossem apreciadas de forma consensual. E por isso, também na sua morte, houve quem lembrasse aquelas que contribuíram largamente para o avanço do país e as que, tendo sido mais polémicas, deixaram insatisfação. A forma como tudo foi expresso mostrou, mais uma vez, que somos capazes da mais elevada eloquência e da mais torpe boçalidade. Nisto não somos diferentes dos seres humanos em geral.
Mas, por sermos portugueses, e por não podermos ignorar, temos, de facto, que agradecer a Mário Soares. Claro que nunca saberemos como teria sido se, em vez dele, estivesse outro naqueles momentos decisivos para a vida do país. Mas a verdade é que era ele que estava e, com ele, o país deu grandes passos em frente. Eu, cuja primeira campanha presidencial para a sua eleição, foi a única em que participei, agradeço-lhe por mim e pelas minhas filhas. Agradeço ainda pelos filhos dos que, não tendo capacidade para o reconhecer, muito lhe devem também.
Foi nisto que pensava enquanto olhava a sua urna naquela sala fria mas bonita. E desejei que, há poucos meses atrás, quando o seu carro parou num semáforo junto ao passeio onde eu estava, ele tenha percebido o meu obrigada que, timidamente, desenhei com os lábios, logo depois do sorriso que me retribuiu.