Quando se tem 82 anos e se é cantor é difícil fazer com que a voz corresponda àquilo que as canções merecem.
Mas quando se tem 82 anos e se é poeta, um grande poeta, parece fácil moldar a forma como os poemas correspondem à nossa vida.
I'm leaving the table
I'm out of the game
I don't know the people
In your picture frame
If I ever loved you
It's a crying shame
If I ever loved you
If I knew your name
You don't need a lawyer
I'm not making a claim
You can put down your weapon
I'm not taking aim
I don't need a lover
The wretched beast is tame
I don't need a lover
So blow out the flame
There's nobody missing
There is no reward
Little by little
We're cutting the cord
We're spending the treasure
That love cannot afford
I know you can feel it
The sweetness restored
Na TVI 24, à hora dos telejornais, temos agora um novo programa de televisão. SOS 24 dá notícias relacionadas com as actividades das polícias e é uma versão televisiva de qualquer coisa tipo "Jornal O Crime". Já por duas ou três vezes vi uns bocados. Como não podia deixar de ser os casos mais mediáticos dos últimos dias estão em destaque. Para além da apresentação dos supostos factos, têm também comentadores em estúdio. Estes, com um ar muito compenetrado e profissional, dizem umas banalidades e dão umas opiniões facilmente suplantadas, em termos de coerência e fundamentação, pelo empregado do café da esquina da minha rua. O problema é que parecem levar-se mesmo a sério. Por isso é ainda mais constrangedor ouvi-los...
Um filme ou, neste caso, um documentário, pouca diferença faz.
Lampedusa, a ilha, torna-se cenário, não por escolha de um realizador, mas por ser ali que se desenrola uma das mais penosas realidades dos nossos dias. De todos os que tentam chegar à Europa muitos são os que nunca chegam a embarcar na direcção desta ilha. Uns ficam no deserto numa travessia que, com poucos meios, frequentemente é fatal. Outros não conseguem ultrapassar a Líbia, as suas prisões e os maus-tratos. Para os que conseguem juntar o dinheiro necessário para pagar a quem organiza as viagens para o desconhecido, entrar naqueles barcos é uma etapa chave. Fugir de uma vida indescritível na sua dureza e onde a morte parece querer levar sempre a melhor leva a considerar possível aguentar as condições da viagem. Mas a verdade é que, para muitos, sobretudo para os mais pobres que só têm dinheiro suficiente para ocupar os fundos daqueles barcos (mais uma vez o dinheiro como factor determinante), é exactamente a morte que encontram neste caminho entre dois continentes, um que não os quis e outro que não os quer.
Lampedusa não tem importância nenhuma para os mortos que ficam pelo caminho. Mas também pouca diferença faz para os milhares de pessoas que, depois de inúmeras provações, ali chegam em condições deploráveis e que são registados e enviados para outro sítio, que o espaço ali é limitado. Os barcos que os recolhem, as camionetes que os transportam, os centros de acolhimento que os recebem, estão ali como podiam estar em qualquer outro lugar que ficasse a meio de um caminho de fuga e esperança.
Mas para as pessoas que vivem na ilha, Lampedusa é a sua casa, lugar das suas memórias. Os campos açoitados pelo vento, o mar, fonte de riqueza que sempre fez parte da sua história, os locais de brincadeira, a estação de rádio local com uma relação de proximidade feita de muitos programas de discos pedidos. Aqui a vida corre como sempre, sem grandes sobressaltos. As recordações negativas que o mar traz são associadas ao duro trabalho da faina da pesca ocupação que, para os mais pobres, se traduz numa vida de sacrifícios e de receios acerca do futuro. A vinda de migrantes que ali chegam à Europa já não é novidade. Mas só nestes últimos anos, a dimensão desse fenómeno se tornou avassaladora.
No documentário só o médico de Samuele, rapaz da ilha a quem acompanhamos do princípio ao fim, parece tocado pela realidade da chegada destes homens, mulheres e crianças a quem pouco interessa o nome do local. No seu caso, porque lida directamente com a situação, é ferido intensamente por ela e apercebemo-nos que as marcas que deixa serão impossíveis de ultrapassar. Mesmo assim, na sua actividade de médico local, nada deixa transparecer. Parece querer proteger dele todos os que não testemunham o horror vivido ali tão perto.
Mesmo assim, quer os que vivem na ilha quer os que, como nós, só vêem as imagens pela televisão não podem ficar indiferentes. Mas nunca temos a verdadeira noção do que realmente se passa. E este documentário aprofunda essa noção. Mesmo que não fosse por mais nada já valia a pena vê-lo.
Uma súbita vontade de se confessar? Agora já não precisa procurar uma igreja e consultar os horários das confissões. Vamos ver como se compatibiliza a noção de tempo que, na religião, é da ordem do metafísico e do divino com a procura e escolha "em tempo real" de um confessor...O "exame de consciência de última hora" parece ser, também, um "must"...
Quando vemos um filme como Julieta percebemos porque é que o cinema é uma arte maior e Almodóvar um grande realizador.
Uma mulher com uma enorme vontade de amar que não se traduz na capacidade real de amar. A dificuldade em lidar com as consequências dessa incapacidade traduzida em culpa e remorso. A complexidade dos sentimentos, num filme simples, sem artifícios, uma história absolutamente credível e próxima de cada um de nós. Os actores estão também à altura das personagens que interpretam e nos seus olhos podemos ver aquilo que não precisam dizer.
Por estas razões, que para alguns não serão válidas, mas sobretudo porque nos sentimos aquela mulher, sabemos que este será um dos filmes da nossa vida.
Ontem, M. telefonou-me num estado de grande agitação. Estava com um grupo de colegas e não sabiam o que pensar. O que se pode dizer a uma filha que acabou de ler uma notícia como esta? Lembrar-lhe que os títulos dos jornais apelam sempre para o lado sensacionalista das notícias? Que a construção de abrigos é uma prática antiga e muitas vezes é uma afirmação de segurança para o interior e exterior do país? Que, desde a segunda guerra mundial, já aconteceram crises bastante complexas, nesta "paz mundial" que tem deixado de fora dos conflitos mais sérios os países mais poderosos? Que a situação na Síria se há-de resolver, sem que se alastre mais a tragédia diária que ali se vive? Que a divulgação de poderio militar e movimentações de tropas são demonstrações de força que visam criar uma ideia de superioridade de um país? Que os "avisos" difundidos por meios diversos são muitas vezes para consumo interno? Que os governantes dos países em causa estão conscientes dos perigos e trabalharão para que as soluções pacíficas prevaleçam? Que existem organismos internacionais que foram criados com o objectivo de impedir que volte a acontecer uma nova guerra mundial? Que tudo o que o ser humano aprendeu até hoje não poderá ser esquecido?
Poderia dizer-lhe tudo isto. Mas, à noite, quando me voltou a falar no assunto, tive medo de não parecer convincente e utilizei o humor, salvação nestas alturas em que quase tudo o resto falha.
Na verdade espero (no sentido do desejo e da esperança) nunca ter que falar desta questão, sem que consiga, pelo menos de forma natural, utilizar este mecanismo de desconstrução de uma realidade que parece cada vez mais difícil de explicar.
No dia em que a Academia Sueca comunica a sua decisão de atribuir o Prémio Nobel da Literatura a Bob Dylan (facto acerca do qual, depois de ter lido tanta coisa, não tenho nada a dizer) fica aqui uma canção com um belo poema de um senhor que fez hoje 75 anos:
Ao final do dia entrei numa livraria para comprar um livro para oferecer de presente a uma amiga. Levava três opções em mente. Só uma delas estava disponível. "O Torcicologista, Excelência", de Gonçalo M. Tavares. Foi esse que trouxe. Ao pagar, e enquanto a empregada que estava na caixa embrulhava o livro, disse-lhe que esperava que tivesse tirado o alarme para não apitar à saída o que já me aconteceu algumas vezes em várias livrarias. Respondeu-me que não. Naquele livro não põem alarme. E acrescentou: "Se fosse o último do José Rodrigues dos Santos..."
É já tarde neste sábado de princípio de Outono e a noite chega um pouco mais cedo. Os holofotes estão ligados e é a essa luz que dezenas de trabalhadores transportam materiais e máquinas, colocando-os no seu lugar e usando-as para que tudo o que ainda falta fazer fique concluído. E parece ser tanto! Para quem, como eu, passa por ali, é difícil acreditar que daqui a 4 dias estará tudo pronto. Mas, como em tantos e tantos outros casos, não duvido que sim. O novo museu ali ficará à disposição de quem o queira visitar. Dizem que a Fundação tem dinheiro para aquilo e muito mais. Dizem, o que para já me parece verdade, que é um belo edifício, projectado com inteligência pelo atelier londrino de Amanda Levete. Já frases como: "Restaurando a ligação histórica entre a cidade e a água, o edifício cria um destino para os lisboetas, bem como para os visitantes culturais e turistas, reabilitando para todos a zona ribeirinha" ou "O projeto irá renovar o acesso ao rio Tejo a partir da cidade e consolidar a regeneração urbana global do bairro"; que li aqui, me parecem largamente exageradas.