sexta-feira, 16 de setembro de 2016

"We could disconnect the telephone"

Entre os que estiveram presentes ontem no Centro Cultural de Belém muito poucos teriam a ver com os que, há 30 anos atrás, sabiam de cor as canções que Lloyd Cole tão bem sabia escrever. Na altura era o nome dele que estava à frente, o que sobressaía frente aos Commotions, o maior responsável pelas emoções que nos abalavam.
Agora estamos todos mais velhos. Ele e nós. A maior parte mais polida, com roupas mais convencionais e a exibir os telemóveis de último modelo que os funcionários do CCB se apressavam a censurar cada vez que os clarões dos flashes iluminavam, à vez, certas zonas da sala. O registo de imagens não era permitido mas muitos queriam aprisionar aquele momento que lhes devolvia um Cole aparentemente desprotegido num palco tão grande mas cheio da segurança que a música lhe dá. É preciso coragem para se expor daquela forma, aceitando as fragilidades que eventualmente possam tornar-se perceptíveis.
O seu filho que, fisicamente, é uma cópia daquele Cole que nos anos 80 fazia suspirar as adolescentes, esteve à altura de todos os temas e, na segunda parte, sempre num plano recuado em relação ao pai, foi um cúmplice respeitoso, nunca tentando acompanhar a letra mas tocando guitarra com elevação.
Quanto a Lloyd Cole mostrou-se tímido, como sempre nos habituámos a ver mas, ao mesmo tempo, à vontade no seu papel de visitante de uma cidade que conhece há muitos anos e da qual guarda já memórias que lhe permitem algumas notas de humor. O público pareceu-me demasiado frio embora nos temas mais conhecidos tenha acompanhado, cantando, mas nunca se sobrepondo ao autor, numa atitude de alguma deferência.
No meio da contenção que se sentia na sala foram as canções que sobressaíram. Podíamos estar sentados, aparentemente calmos, mas, por dentro, havia um fogo que ora nos fazia recuar no tempo, ora nos colocava ali perante o nosso presente, perante o privilégio de partilhar estas canções despidas de artifícios, belas e cruas.

P.S. Como já se percebeu gostei bastante mais do concerto de ontem do que o que vi naquele dia em Sintra.

2 comentários:

  1. Ainda bem, Ana.

    Porque 30 anos é muito tempo. :)

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    1. Pois é, Luís. Mas a verdade é que, ao ouvir determinadas músicas, ficamos com a sensação que não passaram nem 5. :)

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