...que iríamos chegar aqui e que fosse possível haver tanta gente para quem este debate é crucial...
Cartoon na The New Yorker
terça-feira, 27 de setembro de 2016
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
Queixas a metro
Depois de descer as escadas que, nos últimos tempos, de rolantes só têm o nome; a visão que hoje de manhã se tinha, a partir do lanço que leva à plataforma da estação de metro do Cais do Sodré, era impressionante. Em 30 anos de frequência do metro de Lisboa poucas foram as vezes em que vi semelhante espectáculo e sempre por razões que se prendiam com algum acontecimento particular. Certo é que a quantidade de gente naquela plataforma era tal que parecia que só mais um iria empurrar alguém para a linha. Quem descia a escada sentia-se assustado e muitos paravam.
Entretanto lá chegam as 3 carruagens que, a custo, levariam a maior parte dos passageiros. O condutor mal pára logo apita para apressar os que, depois do tempo que estiveram à espera, ainda hesitavam em entrar nos compartimentos apinhados. Eu própria pensei que talvez fosse melhor esperar pelo próximo mas, dada a dúvida em relação ao tempo que esperaria, lá arrisquei. Lá dentro, enquanto as pessoas se arrumavam, muitos comentavam a situação e lamentavam o estado a que chegou um transporte que já foi bom.
Lembrei-me então que, neste dia 22 de Setembro, se comemora o dia europeu sem carros... Será que muitos dos que habitualmente andam de carro resolveram usar o transporte público? Duvido bastante. Mas, se assim foi, certamente muitos foram afugentados e pensarão: o que vale é que o dia europeu sem carros é só uma vez por ano...
Quanto aos utilizadores que diariamente entram nas estações do metropolitano e vêem escadas que não funcionam, pessoas a mais, tempos de espera que aumentam, e ouvem os, cada vez mais frequentes, pedidos de desculpa pelos incómodos causados devido a problemas na circulação; resta-lhes apreciar a beleza de algumas das obras de arte presentes. Mais uma vez a arte nos ajuda a superar a realidade...
sexta-feira, 16 de setembro de 2016
"We could disconnect the telephone"
Entre os que estiveram presentes ontem no Centro Cultural de Belém muito poucos teriam a ver com os que, há 30 anos atrás, sabiam de cor as canções que Lloyd Cole tão bem sabia escrever. Na altura era o nome dele que estava à frente, o que sobressaía frente aos Commotions, o maior responsável pelas emoções que nos abalavam.
Agora estamos todos mais velhos. Ele e nós. A maior parte mais polida, com roupas mais convencionais e a exibir os telemóveis de último modelo que os funcionários do CCB se apressavam a censurar cada vez que os clarões dos flashes iluminavam, à vez, certas zonas da sala. O registo de imagens não era permitido mas muitos queriam aprisionar aquele momento que lhes devolvia um Cole aparentemente desprotegido num palco tão grande mas cheio da segurança que a música lhe dá. É preciso coragem para se expor daquela forma, aceitando as fragilidades que eventualmente possam tornar-se perceptíveis.
O seu filho que, fisicamente, é uma cópia daquele Cole que nos anos 80 fazia suspirar as adolescentes, esteve à altura de todos os temas e, na segunda parte, sempre num plano recuado em relação ao pai, foi um cúmplice respeitoso, nunca tentando acompanhar a letra mas tocando guitarra com elevação.
Quanto a Lloyd Cole mostrou-se tímido, como sempre nos habituámos a ver mas, ao mesmo tempo, à vontade no seu papel de visitante de uma cidade que conhece há muitos anos e da qual guarda já memórias que lhe permitem algumas notas de humor. O público pareceu-me demasiado frio embora nos temas mais conhecidos tenha acompanhado, cantando, mas nunca se sobrepondo ao autor, numa atitude de alguma deferência.
No meio da contenção que se sentia na sala foram as canções que sobressaíram. Podíamos estar sentados, aparentemente calmos, mas, por dentro, havia um fogo que ora nos fazia recuar no tempo, ora nos colocava ali perante o nosso presente, perante o privilégio de partilhar estas canções despidas de artifícios, belas e cruas.
P.S. Como já se percebeu gostei bastante mais do concerto de ontem do que o que vi naquele dia em Sintra.
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