O homem vinha numa das carruagens, há longos minutos, num tom de voz bastante alto, a contar anedotas intercaladas com frases em que pedia "a mais pequena moeda" que cada um tivesse na carteira. Que não roubava, só pedia.
A mulher vinha sentada à minha frente e, numa longa conversa de telemóvel, tratava de questões profissionais com alguém que conhecia bem. À passagem do homem, sem o olhar, pediu desculpa ao seu interlocutor pelo barulho: "é um mendigo que está aqui aos gritos". Antes de se despedir, recomendou a essa pessoa a leitura de um livro de Pepetela que não identificou. Eu pensei que podia ser um romance, ou um conto que contenha uma personagem como a que a mulher não viu mas que estava ali, mesmo ao seu lado.
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