Acho que já disse aqui que, nas viagens nos transportes públicos, me agrada poder ouvir as conversas de quem faz o mesmo trajecto. É assim uma espécie de voyeurismo auditivo. Só que, nestas circunstâncias, quase sempre quem é ouvido sabe que o está a ser, pelo que não é completamente inocente o que se diz e a maneira como se diz e por isso é atenuado o sentimento de escutar conversas alheias. Vem isto a propósito de duas conversas que ouvi nestes dois últimos dias, nas viagens de comboio de regresso a casa.
Na primeira, dois homens, de cerca de 70 anos, algarvios, percebi a meio da conversa, trocavam opiniões sobre peixes, as melhores maneiras de os cozinhar e os melhores sítios para os comer. Foi como ter lido um suplemento de uma revista da especialidade. A lampreia, o sável, a abrótea, a cavala, a sardinha, o cação, a garoupa, o imperador, o salmonete e outros, foram ali falados de maneira rica e interessante como só dois bons apreciadores o poderiam fazer e de uma forma tão espontânea que me fez ter pena de levantar e sair na minha estação deixando-os ainda a tecer loas ao mercado de Vila Franca de Xira nos idos de 60.
A outra conversa juntou duas amigas que discorreram sobre as vantagens e desvantagens de comprar nas lojas de chineses e o problema de ser convidada para um casamento em pleno Inverno com temperaturas tão baixas. Se, no primeiro caso, as opiniões divergiam, tendo cada uma delas experiências opostas; já no caso do segundo estavam em sintonia: as toilettes vaporosas usadas no Verão não têm concorrente à altura numa época em que está guardado, para a noiva, o sacrifício de usar um vestido sem costas quando lá fora estão 5 graus.
Se bem que, de registos completamente diferentes, ambas as conversas me distraíram do meu livro e me fizeram sorrir.
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