quinta-feira, 12 de maio de 2016

Uma família americana

Dada a complexidade do processo para a eleição presidencial nos EUA, os resultados finais conseguem ser, por vezes, surpreendentes. E, desta vez, é, desde logo, a definição dos candidatos dos dois partidos que tem levantado questões que são, de alguma forma, novas. O fenómeno Trump é um dos casos que, sem dúvida, irá motivar a realização de muitos estudos na área da sociologia eleitoral. Deixando de lado aquilo que é afinal o mais importante: as suas ideias políticas; atentemos no conjunto de fotografias publicadas neste site (não sei se se trata de uma revista nem quais as circunstâncias da sua publicação original). Nelas o casal Trump e o seu filho, posam para a câmara, na sua casa de Nova Iorque. Aparentemente são imagens de 2010 pelo que não sei se a produção da altura se repetiria agora. Mas, pelo que se sabe, não seria impossível. 
São 51 imagens de pura exibição de uma vida luxuosa que só poderá ser considerada em escalas aplicadas a um número ínfimo de famílias em todo o mundo. Claro que o cultivo dessa imagem, no mundo de negócios de Trump, poderá fazer sentido. Já quando pensamos num candidato a presidente de um país (mesmo que esse país seja os EUA) custa-nos enquadrar em qualquer quadro de referência aquela penthouse e tudo o que nela existe, desde os lustres cintilantes até às limousines e aviões com que Barron brinca; o helicóptero que se vê fora da janela; a quantidade de sapatos de Melania que talvez não chegue ao número de Imelda Marcos mas que impressiona; e muitos outros pormenores que chegam mesmo a chocar.
Pode-se argumentar, claro, que os presidentes anteriores fizeram o mesmo numa medida mais proporcional à sua riqueza pessoal e que os ranchos, os cavalos ou as casas de férias poderão valer tanto ou mais que tudo o que nos é dado a ver nestas fotografias; ou que essa exibição é comum a muitos membros de famílias reais, herdeiros de impérios comerciais, etc; ou ainda que muitos, como grandes traficantes de droga ou armas, só não o fazem porque não podem. Tudo isso pode ser verdade. E a publicação destas imagens agora poderá ter sido propositada, para causar um efeito negativo. Mas não é certo que tal aconteça, se pensarmos numa certa tendência para, em algumas situações, os eleitores aderirem, mesmo que no imaginário e de forma menos consciente, a um estilo de vida que muitos consideram de sonho. 
Pelos vistos nas eleições primárias este estilo não foi um problema. Para mim a sensação de estar a ser agredida por esta ostentação é suficiente para me deixar bastante incomodada e a falta de pudor a ela associada assusta-me. 

1 comentário:

  1. Para ajudar a compreender: http://www.newyorker.com/news/john-cassidy/just-how-rich-is-donald-trump?mbid=social_facebook

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