Apesar de fazer parte da cadeia Lusomundo, é quase um cinema de bairro o do centro comercial perto da minha casa. Ultimamente quando lá vou, ao final da tarde ou à noite, as salas estão praticamente vazias. Hoje estranhei quando, ao comprar os bilhetes, me disseram que já só havia lugares nas 4 filas da frente. E quando o filme começou a sala estava cheia.
Por insistência da minha filha mais velha fomos ver o filme "A gaiola dourada". Na apresentação tinha pensado que seria um filme divertido. Na realidade é bem mais que isso. É impossível não pensar em alguns conceitos psicológicos e sociológicos elementares. A palavra cliché, comum às duas línguas, português e francês, ganha destaque e o dia a dia do casal de emigrantes em Paris e dos seus filhos e restante família é-nos mostrado, embora caricaturado, na perspectiva dos que estão de fora mas também na das próprias personagens, reforçando uma das ideias centrais desta problemática que é a auto-exclusão e o aprofundamento da endoculturação.
Se pensarmos em termos estatísticos é claro que a família Ribeiro não será representativa. As famílias cujos membros do casal são porteiras e trabalhadores da construção civil em França não terão, apesar das mudanças que foram acontecendo ao longo do tempo, aquela vida, aqueles comportamentos, aquele poder. As inconsistências de status são bastantes e, por isso, em termos sociológicos, não há uma adesão do argumento à realidade.
Mas, afinal, estamos a falar de uma comédia. E, numa comédia, a alteração e mesmo a subversão dos papéis, face a essa realidade faz parte das possibilidades. Este filme está à altura do tema e das aparentes intenções do realizador. E até Joaquim de Almeida (de quem não sou fã) me conseguiu surpreender.
Durante a exibição, a boa disposição na sala foi uma constante e nem os pormenores da forma como o francês era falado passaram despercebidos. Alguns momentos não foram totalmente compreendidos pelos mais novos, que estavam em grande número, mas o filme pode ser uma ponte para falar de muitas questões caras às ciências sociais, História incluída. Para já a minha filha mais velha saiu do cinema a dizer que gostou muito. E, quanto a mim, os pais do Ruben Alves têm motivos para estarem contentes.
Vi o filme. Lúcido, o teu comentário. O filme retrata-nos em muito da nossa maneira de ser, quer "lá fora" quer "cá dentro". A simbiose "francês-português" também era muito divertida :). Embora, não haja sido emigrante, já vivi alguns tempos pluri-mensais no estrangeiro, o primeiro dos quais, como estudante, precisamente em Paris: os portugueses individuavam-se na endocultura que criavam entre os gauleses! :))
ResponderEliminarOlá, Vasco.
EliminarÉ, de facto, uma atitude comum em situações de emigração. O filme brinca com isso de uma forma bastante "descomplexada". :)