quinta-feira, 25 de abril de 2013

Era Abril. Hoje é Abril.

Era Abril e eu tinha sete anos. Agora é Abril e esses sete anos há muito ficaram  para trás. Já sei que, ao contrário do que sonhava na altura, não serei cantora. Também sei que os sonhos de muitos que, nesses tempos, sonharam com um país novo estão hoje abafados por uma realidade que se impõe de forma avassaladora. Já sei que os nossos sonhos não duram para sempre. 
Mas hoje é dia de lembrar esses sonhos. Hoje é dia 25 de Abril.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Uma das razões/poemas por que gosto de Adília Lopes

Não gosto tanto
de livros
como Mallarmé
parece que gostava
eu não sou um livro
e quando me dizem
gosto muito dos seus livros
gostava de poder dizer
como o poeta Cesariny
olha
eu gostava
é que tu gostasses de mim
os livros não são feitos
de carne e osso
e quando tenho
vontade de chorar
abrir um livro
não me chega
preciso de um abraço
mas graças a Deus
o mundo não é um livro
e o acaso não existe
no entanto gosto muito
de livros
e acredito na Ressurreição
dos livros
e acredito que no Céu
haja bibliotecas
e se possa ler e escrever

in , Adília Lopes, Dobra Poesia Reunida , Assírio e Alvim, 2009, pág. 395

Minimalista

A apresentação do autor, na contracapa do novo livro de Rui Zink.
Diz assim: escreve livros, dá aulas, imagina coisas.

sábado, 20 de abril de 2013

É difícil escolher

Vi-o no Teatro Aberto nesta peça, para a qual compôs a música que a acompanhava e que era tocada ao vivo.
Na altura procurei saber quem era e percebi que gostava do que fazia no mundo da música. Agora que ouvi o seu novo disco estou rendida. Deixo aqui "Distant gardens" só porque é a faixa disponível em vídeo. Mas elas são todas muito boas. Ouçam porque vale mesmo a pena.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Uma das razões/poemas por que gosto de Susana Araújo

Programa de Estabilidade e Crescimento

Tu vacilas, não queres ouvir e eu
não vou ter contigo a meio caminho
deposta, abandonada e irrisória
a ponte de ferro quebra-se
assim que o FMI avança

Um casal ainda criança
já refinancia
os seus juros

Não há compensação
para quem sonha severamente
enquanto espera pelo autocarro
durante o horário de Inverno

Vê agora, lá fora: uma
família que forja falsetes
tenta agarrar-se à rede,
frívolos esforços em que
os nossos filhos falham

O estímulo ao investimento
de iniciativa privada promove
a utilização proveitosa dos nossos
recursos: como esta faca de cozinha
que avança para nós com serrilha, sorrindo
combinação certeira entre a ergonomia
o melhor design e a qualidade

Todas as domésticas suturas serão
submetidas a uma rigorosa
análise de sensibilidade

Dorme bem, meu amor e
deixa a manhã reestruturar
a nossa dívida.

in , Susana Araújo, Dívida Soberana , Mariposa Azual, 2012, pág. 42


Que força é essa?


terça-feira, 16 de abril de 2013

Na rua

Estão deitados lado a lado. Um homem e uma mulher. Os seus corpos ocupam a largura exacta do espaço que havia disponível. A barreira formada pelos cartões não os esconde. Só inadvertidamente se parecem tocar, como se estivessem ali, debaixo do mesmo cobertor, por um qualquer acaso. Quem passa não deixa de os olhar. Eles dormem ainda.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Boas Versões (2)

E esta (original dos Fleetwood Mac), é uma verdadeira delícia...

Simon

Em certas alturas é impossível não pensar em Oliver Twist. O Simon de "L'enfant d'en haut" é a principal fonte de sustento da sua família numa Suiça que não estamos habituados a ver. Nem bancos, nem empresas relojoeiras. É o turismo que é o motor da economia à escala deste local, no sopé de uma montanha, que os residentes sobem para ir trabalhar nos restaurantes e hotéis, onde se divertem os que vêm de fora aproveitar a neve, enquanto os dias mais quentes não transformam tudo em lama. 
E é também lá em cima que Simon desenvolve a sua actividade, roubando o que pode e vendendo onde calha conseguindo, assim, sobreviver já que a sua "irmã", apesar de adulta, comporta-se como se fosse ela a criança. Nesta inversão de papéis, é fácil gostarmos de Simon. A sua é uma actividade solitária mas mais solitárias são as horas que passa em casa, sem ninguém, comendo as sandes que não foram feitas para ele. Mesmo assim, só na solidão e na escuridão da montanha, abandonada por todos, ele quebra. 
Com excelente música e mais uma vez um trabalho fantástico de Kacey Mottet Klein, no papel principal, este "Irmã" , na tradução portuguesa, é mais um filme interessante de Ursula Meier.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Boas versões (1)

Nos 25 anos da TSF aquela rádio resolveu pedir a alguns músicos que fizessem versões de músicas que se ouviam, à altura do nascimento. Algumas são muito boas. Esta, já bastante mais antiga, ouvia-se nessa época também já numa versão.
Esta do Vitorino Voador é muito boa.




Do outro lado da rua

A mulher atravessou a rua, rapidamente, para fugir ao carro que avançava e dirigiu-se-lhe.
- Peço desculpa... - começou a dizer.
Perante alguns indicadores que lhe permitiram perceber que lhe iria pedir dinheiro, a interpelada abanou a cabeça.
Em jeito de desabafo, mas de forma ríspida, a mulher respondeu: 
- Olhe, tenho fome, é o que é!

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Lembras-te?

- Ah, olha, era aqui a Loja das Meias! - dizia a senhora para a amiga que, como ela, olhava a fachada do edifício agora ocupado por outra loja.
- Lembras-te do vestido às flores que comprei aqui para o casamento da Alice? - acrescentou.
Já não ouvi a resposta. Elas ficaram a olhar a montra actual mas a ver a que já não existe.