sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Enquanto o autocarro percorria as ruas

Foi o sorriso da rapariga que primeiro me chamou a atenção. Ela olhava em frente. Sentados nos bancos, que eu também via, estavam dois rapazes. Eram gémeos e, aos nossos olhos, só as roupas eram diferentes. Ambos tinham auriculares nos ouvidos. Não sabemos se estariam a ouvir a mesma música. Estavam de olhos fechados e as suas cabeças balouçavam nas mesmas direcções em simultâneo e com o mesmo ritmo. Durante longos minutos foi assim. Quem os olhava não podia, de facto, deixar de sorrir.

domingo, 26 de outubro de 2014

No interior de um tanque. No interior de uma guerra.

Não gosto de filmes de guerra. Por isso ir ver "Fúria" seria sempre um risco. Mesmo assim fui. Tinham-me dito que este era um filme diferente. Logan Lerman, que interpreta o papel de um muito jovem soldado que se vê, de repente, na tripulação de um tanque, dizia outro dia numa entrevista que, durante as gravações, todos os dias se chocava com o que via. De facto, mesmo estando com toda a equipa em filmagens não deve ser fácil participar naquelas cenas. A mim custou-me ver o filme. O seu realismo obrigou-me a fechar os olhos algumas vezes. Senti-me muito desconfortável como se também eu estivesse presa naquele tanque. Isso significa que eu não gostei do filme? Não. Isso significa que eu não gosto da guerra.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Refeição especial

Vou com alguma frequência ao Café Império. Mesmo que a comida não seja nada de especial, o espaço compensa. Fechado durante algum tempo, temeu-se que não voltasse a reabrir com a anterior função o que teria sido lamentável. Felizmente tal não aconteceu.
Integrado no edifício do Cinema Império, um projecto de Cassiano Branco, podemos ver, no interior, numa parede revestida a cerâmica (de Jorge Barradas), uma composição de esculturas de Martins Correia. Na mesma sala e ocupando uma área considerável, uma pintura mural de Luís Dourdil. 
Durante muito tempo, sentia-me triste ao olhar para esta obra, de 1955, tal era o seu estado de degradação. Nas últimas vezes que lá estive, porém, pude apreciar muito melhor aquele magnífico trabalho, agora restaurado no âmbito das comemorações do centenário do nascimento do pintor.
Não sei se os estudantes que enchem a sala ao almoço estarão conscientes da importância das obras em causa. Talvez não. Eu sinto-me uma privilegiada por poder tomar uma refeição na sua companhia. Passem lá e vejam. O café ganha muito. Lisboa também. 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Prémio "Um pouco de modéstia não ficava nada mal"

Se é que a TSF citou bem (foi de uma notícia da rádio que a copiei), foi assim que Cristiano Ronaldo se referiu às suas novas chuteiras: «Estas chuteiras têm tudo a ver comigo: são elegantes, bonitas e brilham (...)»

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Uma consequência positiva da greve do metro de hoje

Estava quase a chegar ao meu destino depois de longos 45 minutos de autocarro. O rádio foi-me fazendo companhia. Em pé e sem possibilidade de me mexer nem o livro tinha sido aberto.  Nada faria pensar que terminaria a viagem com um sorriso nos lábios com o prazer da descoberta. Mas foi o que aconteceu ao ouvir a voz de Marisa Mena, ou melhor, Mimicat. Esta voz e esta canção.




terça-feira, 14 de outubro de 2014

Publicidade barata

Depois de ter herdado, há algum tempo, um iPod que está já bastante desactualizado, a minha filha mais nova tem tentado convencer-me que o ideal seria comprar um mais recente.
Após a minha argumentação no sentido de lhe dizer que faria mais sentido algo que a ajudasse mais na escola ela respondeu: -Sim, é um brinquedo... Mas eu ainda sou uma criança. E isso é bom. Isto depois do já clássico: - Não estou a pedir para tabaco.
Por fim, perante a minha pergunta: - E tem que ser mesmo um iPod?; ela responde: -Ó mãe, o mundo da Apple só tem porta de entrada. Não tem porta de saída.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O Outono de Modiano

Não tenho uma opinião clara sobre a atribuição do prémio Nobel da literatura deste ano. Aliás, de nenhum ano. A sua importância é muito grande mas o júri, tal como noutros prémios, terá, certamente, dificuldades em decidir e as suas decisões não podem ser aceites por todos. Vem isto a propósito deste post do Pedro Correia. Depois de o ler resolvi fazer o mesmo exercício.
Tenho dois livros de Patrick Modiano. Dora Bruder, foi-me oferecido em Janeiro de 2001 e li-o no mês seguinte. A memória que tenho dessa história de uma rapariga de origem judia no período de ocupação de Paris pelos alemães não é nítida embora ache que gostei de o ler (a falta de sublinhados, no entanto, poderá indicar o contrário). Anos depois fui eu a comprar No café da juventude perdida (lido em Maio de 2012). Mais uma vez a personagem principal é uma mulher e o cenário é Paris, mas agora nos anos 60 (do século XX). Deste sei que não gostei especialmente. Mesmo assim, este último tem mais sublinhados. Deixo aqui um deles. Porque também gosto do Outono.

"Para mim, o Outono nunca foi uma estação triste. As folhas secas e os dias cada vez mais curtos nunca me recordaram o fim de alguma coisa, antes uma expectativa do futuro. Há electricidade no ar, em Paris, nas tardes de Outono, à hora em que cai a noite. Mesmo quando chove. Não fico deprimido, nem tenho a impressão de que o tempo me foge. Sinto que tudo é possível. O ano começa no mês de Outubro."

in , Patrick Modiano, No Café da Juventude Perdida, Edições Asa, 2009, pág. 16

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

505

Uma grande canção dos Arctic Monkeys que é, ao mesmo tempo, neste dia mundial da música, o novo valor do salário mínimo nacional em Portugal. Se, na canção, não podemos saber ao certo a que corresponde o número (que pode ser um quarto de hotel, por exemplo) já para muitas famílias portuguesas ele significa mais 20 euros por mês. Ainda chega para comprar um CD da banda britânica mas, dada a situação real, não me parece que seja a comprar discos que a maioria o irá gastar. 

Frugal, espartano e que mais?

Da Mouraria, para Lisboa. E agora, quem sabe, a caminho de Portugal inteiro... 
Alguém com um estilo de vida espartano pode ser exactamente o que o país precisa. Esta, pelo menos, será a opinião dos credores da dívida pública portuguesa. 
Para fazer jus a esta fama e depois de um primeiro-ministro a morar em Massamá e a passar férias na Manta Rota; ainda teremos um primeiro-ministro a morar num quartinho arrendado na R. da Imprensa à Estrela e a passar férias no Parque de Campismo da Costa da Caparica...